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sexta-feira, 25 de maio de 2012

Capitulo 5

O calor da noite siciliana envolveu-os como um cobertor quando eles desceram do avião e tomaram o carro que os esperava. Demi, nas suas roupas pesadas, estava molhada de suor.

— Frankie. — Nick cumprimentou o irmão que os aguardava com óbvia afeição, e os dois trocaram fortes abraços antes que Nick conseguisse segurar-lhe o braço para apresentá-la ao homem alto e bonito ao lado de uma Mercedes.

Demi esperava que ele apertasse sua mão, mas, em vez disso, Frankie a abraçou... Um abraço que estranhamente não tinha o mesmo efeito sobre ela que o abraço de Nick.

Ele, então, admirou Ollie, tirando-o do carrinho de bebê com tanta habilidade que todos os medos maternais de Demi foram imediatamente aniquilados. Fez seu filho sorrir quando o segurou alto no ar, mostrando possuir familiaridade com crianças.

— Ele é um verdadeiro Jonas — ela ouviu Nick dizendo orgulhosamente, como se Oliver fosse dele, enquanto o irmão riu e provocou-o.

— Posso ver que ele tem seus olhos, irmão.

De algum modo, foi Nick que cuidou de Ollie quando eles entraram no carro, colocando-o na cadeirinha de bebê enquanto conversava com o irmão.

A estrada para o Castello era escura, em contraste com o próprio Castello, que flamejava com as luzes.

— Minha esposa está muito ansiosa em conhecê-la e dar-lhe as boas-vindas — disse Frankie a Demi antes de saírem do carro. — Ela queria vir comigo esta noite, mas Nick proibiu, porque pensou que você estaria muito cansada. Virá amanhã para vê-la, e trará também nosso garotinho.

Então, ele beijou Ollie na testa e deu-lhe um abraço forte, antes de entregá-lo a Nick, que o afivelou no carrinho enquanto dois homens removiam a bagagem do porta-malas da Mercedes.

Demi conheceu o Castello, a governanta e duas jovens empregadas.

Soubera, durante a viagem do avião ao Castello, que Frankie e sua esposa viviam em um palacete a alguns quilômetros dali, e que Rocco era um incorporador de propriedades que viajava muito, a trabalho, e o irmão do meio, de Nick, possuía uma empresa aérea. Ele, aparentemente, tinha seu próprio apartamento no Castello, mas passava a maior parte do tempo em Florença, sede de seus negócios. O que mais a surpreendera, era saber que Nick também tinha interesses comerciais independente de suas responsabilidades como herdeiro. Ele era arquiteto, e possuía uma casa em Florença, assim como sua própria ala residencial no Castello.

— Então, você não vive aqui o tempo todo? — perguntou Demi agora que eles haviam entrado.

— Normalmente, não, mas não precisa temer, pois não abandonarei você e Oliver.

— Eu não estava pensando nisso — mentiu Demi.

— Maria preparou quartos para vocês dois — disse Nick, ignorando a mentira dela. — Ela lhe mostrará agora.

Era tarde, e Demi estava cansada... Tão cansada que quando viu a cama imensa e confortável no quarto para o qual Maria a levou, tudo que queria era deitar-se.

Era mãe, portanto, tinha responsabilidades, embora um breve olhar fosse o suficiente para ela se assegurar que o quarto anexo ao seu havia sido transformado num berçário, esplendidamente equipado com tudo que Ollie pudesse precisar... Inclusive utensílios para fazer e esquentar mamadeiras.

— A esposa do signore... Escolheu tudo — disse Maria num inglês precário.

— Signore? —Demi questionou incerta, enquanto tentava não olhar muito avidamente para a cama que a esperava.

— Si. A signore do irmão do signor Nicholas. Ela virá amanhã para vê-la.

Maria devia estar referindo-se à esposa de Frankie, Demi imaginou.



Ela acordou e notou que alguém devia ter entrado no quarto mais cedo e deixado uma bandeja com o café da manhã, com café, frutas e pães frescos.

Também tinham puxado as cortinas para permitir a entrada dos raios de sol no quarto.

Demi saiu da cama, colocando um roupão felpudo que encontrara no banheiro na noite anterior, e foi, primeiro, ver Ollie, deitado feliz no seu berço, observando o móbile pendurado acima de sua cabeça.

Ela, então, se serviu de uma xícara de café, bebendo-a com um olho na porta aberta para o berçário e outro nas elegantes portas francesas de seu quarto, que se abriam para uma grande varanda, com uma mesa e duas cadeiras, protegidas por grades altas, para segurança de Ollie.

Já estava quente. O céu claro tinha diversos matizes de azul e a percepção de que podia ver o mar além dos muros do Castello deixaram-na deslumbrada. Diretamente debaixo da varanda havia jardins circundados por muros antigos, cobertos por trepadeiras.

À distância, além do jardim murado, os picos das montanhas pareciam tocar no céu, os verdejantes sopés pareciam plantados com oliveiras.

Demi podia ouvir Ollie gorgolejando. Terminando seu café, começou a rir. Seria maravilhoso ser livre para estar com o filho e deliciar-se com seu desenvolvimento.

Gostava muito da creche, mas invejava as mulheres que tomavam conta de seu bebê. Esperava que ele não sentisse muita falta de seus pequenos companheiros.

Uma hora depois, com Ollie banhado e de fralda limpa, alimentado, vestido e seguro no seu chiqueirinho, Demi foi vestir-se.

Sua confusão de não poder encontrar as roupas que usara na noite anterior transformou-se em desconfiança de que tinham sido levadas embora, então, com uma raiva intensa, que a fez sacudir-se da cabeça aos pés, descobriu que não estavam faltando apenas as roupas da noite anterior, mas também a mala que continha o restante de suas coisas.

Suas roupas haviam desaparecido! Levadas, sem dúvida, por ordem de Nick, de modo que ela fosse forçada a usar as que ele comprara... Roupas que ele achava mais adequadas e que, surpresa! Não tinham desaparecido.

Sua escolha não seria questionada por ninguém, pensou Demi. Não seria manipulada e controlada. Mas não tinha outra opção senão usar um dos novos trajes, ou permanecer em seu quarto, uma vez que, certamente, não podia descer a escada usando um roupão de banho.

Não suportaria olhar para si mesma. Então, decidiu que não faria isso, enquanto puxava o zíper da calça de algodão, modelo Capri, e calçava sapatos baixos. Pelo menos conseguira encontrar uma blusa de mangas compridas para pôr sobre o top de alcinhas que fora forçada a vestir. Contra sua vontade, observou sua pele pálida, que a fazia se sentir quase nua.

Pegando Ollie, caminhou para a porta do quarto.

Não admitiria ser controlada daquele jeito... E no minuto que encontrasse Nicholas, iria dizer-lhe isso.

O Castello parecia ser um aglomerado de longos corredores, e na noite anterior Demi estivera muito cansada para prestar atenção quando Maria a levara para o quarto. Quando ainda não tinha alcançado a escadaria, depois de atravessar o que pareceu ser quilômetros de corredores, começou a entrar em pânico... Até que dobrou em um canto e descobriu que finalmente chegara a um grande hall, onde uma escadaria levava ao imponente saguão.

Estava prestes a descer quando uma porta próxima se abriu e Nicholas apareceu.

— Quero minhas próprias roupas de volta — disse-lhe Demi, zangada, antes que ele pudesse falar. — Suponho que você pensou que estava sendo muito esperto, mandando alguém levá-las embora, sabendo que eu seria forçada a usar o que você comprou para mim. Mas...

— Suas roupas desapareceram? As que você usava quando chegou?

Demi teve de lutar para conter o desejo de cerrar os dentes.

— Sabe muito bem onde elas estão... Assim como minha mala. Foi você que mandou sumir com elas. É, afinal de contas, o herdeiro dos Jonas.

Ignorando o sarcasmo dela, Nick estendeu as mãos para Ollie.

— Você está errada na sua acusação. Não dei nenhuma ordem em relação a suas roupas. Nem daria. Pessoalmente, acho que ficará mais confortável no que está usando, mas o direito de escolha é seu. Contudo, apesar de não saber onde está sua mala, acho que sei o que pode ter acontecido. Venha comigo, por favor.

Nick desceu a escada depois de pegar Ollie nos braços. Seu filho parecia muito feliz sendo carregado pelo seu novo parente, que lhe falava na linguagem balbuciada de bebê. Demi o seguiu às pressas para poder acompanhar-lhe os passos.

Do hall, ele a conduziu por diversos salões formais, mobiliados com o que Demi imaginou ser antiguidades de preço inestimável.

Finalmente parou numa sala de aparência mais confortável, onde Maria estava comandando as empregadas.

No minuto que a governanta viu Ollie, sorriu para o bebê, então cumprimentou Demi.

— Demi deseja saber onde estão as roupas com as quais chegou ontem à noite — disse Nick para Maria, falando lentamente em inglês.

Maria deu a Annie um largo sorriso.

— Eu as peguei e coloquei-as na máquina de lavar — disse ela despreocupada. — Vocês querem café agora? E alguma coisa para comer?

— Tomaremos café no terraço, obrigado, Maria — respondeu Nick. — Oh, e leve xícaras extras para Frankie e a esposa. Eles deverão chegar logo. — Voltando-se para Demi, murmurou: — Você deve culpar minhas cunhadas pela falta de suas roupas. Elas insistem em modernizar o Castello com eletrodomésticos, por isso Maria não pode resistir a usar a nova máquina de lavar roupa, todas as vezes que tem oportunidade. Quanto à sua mala, farei investigações.

Demi sentiu-se mortificada. Era evidente que chegara à conclusão errada. Se não fosse cuidadosa, ele iria começar a pensar que ela estava paranoica. A despeito da temperatura amena no interior do Castello, podia sentir gotas de suor brotando na sua pele.

— Devo desculpar-me — disse ela com firmeza.

Nick meneou a cabeça.

— Não há necessidade. A culpa é minha, uma vez que a fiz sentir-se sob pressão com conselhos não solicitados. — Demi ficou atônita com a reação dele. Nick continuou: - Até que meus irmãos se casaram e desisti do que acreditava ser minha responsabilidade pelo bem-estar emocional deles, que me repreenderam pela minha exagerada preocupação de irmão mais velho. Foi um hábito que adquiri quando nós três éramos vulneráveis aos estados de espírito de nossa madrasta, que se ressentia de nós, e de um pai que não se importava. Se pareço compassivo demais, não é minha intenção. Meus irmãos e eu temos levado e continuamos a levar vidas privilegiadas. Contudo, o fato de ser o irmão mais velho não me dá o direito de interferir em suas vidas, assim como meu senso de responsabilidade exagerado não me dá o direito de criticar suas roupas para o clima siciliano.

— Eu provavelmente reagi de forma exagerada — admitiu Demi.

O sorriso caloroso que ele lhe deu estava fazendo coisas extraordinárias ao coração dela. Ele tinha um lindo sorriso... Forte, real e sumamente franco.

Algo muito temerário estava espalhando um calor através de seu baixo-ventre, a presença daquilo deixando-a à beira do pânico.

— Meu pai vai querer ver Oliver, é claro. O problema cardíaco dele é terminal, e ele teve uma recaída enquanto eu estava fora. Ficou muito ansioso ao saber que Oliver poderia tornar-se parte da família. Sabe que vocês estão aqui, mas o médico recomendou que descansasse um pouco mais antes de ver o garotinho.

— Devo avisá-la que meu pai idolatrava Joseph. Ele não sabe nada sobre as circunstâncias que envolvem a concepção de Oliver. Não ouvirá uma palavra contra o filho favorito, e, em vista da precariedade da saúde dele, acho melhor não tentar forçá-lo a aceitar a realidade de quem meu meio-irmão era. Devo preveni-la também que meu pai não trata seu sexo com o respeito merecido, e é provável que você o ache agressivo. Contudo, as ofensas dele não são pessoais. Se você quiser, levarei Oliver para conhecer o avô.

Nick estava tentando avisá-la sobre o pai, assim como tentando protegê-la dele, reconheceu Demi, e dessa vez ela gostou disso de sua atitude.

O casal que entrou no hall tinha tanto amor um pelo outro que Demi sentiu uma ponta de inveja. Ela viu os olhares que Frankie Jonas trocava com a esposa quando, juntos, empurravam um carrinho com um garotinho sorridente que parecia ter a idade de Ollie.

Imediatamente, as crianças se entreolharam, como se reconhecendo que eram iguais.

— É impressionante, não é, como mesmo os bebezinhos simpatizam um com o outro? Como se comunicam sem que uma única palavra seja dita? — comentou a esposa de Frankie, rindo. — Eu sou Madison, a propósito. — Ela deixou o carrinho com Frankie para aproximar-se e abraçar Nick calorosamente, depois deu um abraço mais breve, porém carinhoso, em Demi, antes de admirar Ollie.

— Bem, você certamente saberia que ele é um Jonas. — Ela riu, acrescentando: — Oh, veja isto, Frankie, você estava certo: ele tem os olhos de Nick. Você deve ter ficado surpresa quando Nick entrou em contato pela primeira vez. Fiquei aterrorizada quando Frankie fez isso comigo. Pensei que ele quisesse tirar meu sobrinho de mim.

As duas mulheres estavam sentadas no terraço, enquanto os bebês brincavam, felizes, sobre os tapetes aos seus pés. Nick e Frankie tinham desaparecido para resolver algum assunto familiar, e enquanto estavam ausentes Demi soube diversas coisas através de Madison, incluindo o fato que em determinada ocasião a família Jonas acreditara que o sobrinho dela, Josh, podia ser filho de Joseph.

— É muita coragem sua vir aqui. Sei o quanto vulnerável e sozinha você deve sentir-se depois que Oliver nasceu. Mas pode confiar em Nick. Ele é um homem honrado e forte. Frankie finge que não, mas sei que secretamente põe Nick num pedestal, e vendo como ele protegeu e cuidou dos dois irmãos quando eram jovens, é fácil entender por quê. O pai deles não foi bom, nem para os filhos nem para a primeira esposa. Frankie diz que é somente o senso de dever de Nick para com o nome Jonas que o fez enfrentar o pai. O que mais admiro nele, todavia, é a maneira como ensinou aos irmãos a valorizar a individualidade. Encorajou-os a serem financeiramente independentes, apesar da riqueza dos Jonas. Todos os três são bem-sucedidos por seus próprios méritos.

— Você, obviamente, gosta muito dele. — Demi sorriu.

Ela queria muito mudar de assunto. Ouvir sobre a infância de Nick, imaginá-lo como menino, ouvir sobre sua dor emocional estava lhe trazendo emoções muito fortes.

— Sim, gosto, e quero assegurar que você pode confiar em Nick e que Oliver estará seguro sob sua proteção. — Madison brincou com os óculos de sol que havia retirado, e colocou-os sobre a mesa. — Não gosto de ser desleal, mas já disse a Frankie como me sinto. Enquanto você pode confiar totalmente em Nick, tenha muito cuidado com o velho príncipe. Não sei se Nick já lhe contou alguma coisa sobre o pai.

— Mencionou que ele idolatrava Joseph.

— Sim, idolatra. Acho que ele faria qualquer coisa para ter o filho de Joseph crescendo onde Joseph cresceu.

Havia um aviso nas palavras da outra mulher, Demi tinha certeza. Mas antes que pudesse questioná-la mais diretamente, Nick e Frankie retornaram.