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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Capitulo 2

Despedida! Demi tinha sido despedida porque um hóspede do hotel, que horror!, a tocara. A recepcionista, obviamente, relatara o incidente, e uma queixa havia sido feita à firma que a empregava. O gerente ficara esperando por ela, quando ela voltara com as outras empregadas para a agência, para dar-lhe a notícia. Agora, estava desempregada!
Apesar de ser verão, os brilhantes raios de sol da manhã tinham desaparecido, dando lugar a uma chuva.
Quando saiu para a rua, Demi vestiu sua capa de chuva, uma capa de muito boa qualidade, sobra de sua vida anterior, uma vida antes da morte de sua mãe e do nascimento do filho.
Tinha 24 anos, lembrou-se.
Velha demais para chorar porque estava sozinha e vulnerável, e desesperadamente preocupada em como iria pagar todas as contas sem seu emprego de faxineira.
As ruas da cidade estavam superlotadas, e ela não queria se atrasar para pegar Ollie na creche. Havia uma nota no quadro de avisos da creche procurando assistentes de professores para o ensino fundamental da escola.
Demi adoraria candidatar-se, mas era muito perigoso. Eles a investigariam e descobririam que os respeitados advogados de Joseph tinham ameaçado processá-la por proclamar que ele a estuprara, dizendo que, na verdade, ela havia consentido em fazer sexo com ele.
Sua reputação seria arruinada. Demi não podia provar que fora violentada. Seria sua palavra contra a deles, e ela não podia sequer lembrar-se do que acontecera. Sabia, sem sombra de dúvida, que não havia consentido.
Seu meio-irmão tinha ficado furioso ao receber aquela ligação telefônica dos advogados de Joseph. Demi tremeu, mesmo não estando frio, e estampou um sorriso forçado no rosto quando subiu os poucos degraus de pedra que levavam à porta da creche.
As paredes, pintadas num brilhante amarelo, eram decoradas com ilustrações coloridas das crianças, e a sra. Nkobu, uma das mais velhas da equipe de funcionárias, cumprimentou-a com caloroso sorriso.
— Há um homem esperando para vê-la. A Sra. Lovato não queria permitir que ele esperasse, disse-lhe que era contra o regulamento, mas, aparentemente, ele é o tipo de homem que não aceita as regras de ninguém senão as dele — acrescentou ela, conspiratoriamente.
Demi sentiu um frio percorrer-lhe a espinha.
David os encontrara!
Falando estritamente, a creche não deveria permitir qualquer pessoa não autorizada por um dos pais ter acesso a nenhuma das crianças, mas Demi sabia o quanto David podia ser persuasivo. Ela sentiu o estômago nauseado. Ele tentaria retomar sua vida novamente. Diria que era para seu bem. Com toda certeza, lembraria a Demi que os pais haviam deixado o espólio para ele porque confiavam em David para cuidar da irmã... mesmo que sua mãe lhe dissera que a casa seria sua um dia, porque pertencera a seu pai.
Precisava pensar nisso tudo agora, disse a si mesma.
Buscaria toda sua energia e força para sobreviver ao presente: não deveria desperdiçá-las no passado.
— Ele está na sala de espera — informou-lhe a sra. Nkobu.
Demi assentiu, mas em vez de ir para a sala de espera foi para o lugar onde outras mães estavam ocupadas aparelhando seus filhos.
Ollie estava sentado no chão, distraído com alguns brinquedos e, como sempre, ao vê-lo, o coração de Demi inundou-se de amor. No minuto que ele a avistou, ergueu os braços para ser pego. Somente depois de aninhá-lo nos braços Demi sentiu-se com coragem para olhar através da parede de vidro da sala de espera adiante.
Havia apenas uma pessoa lá. Estava de pé, de costas para o vidro, e não era David. Mas qualquer alívio que pudesse sentir foi obliterado pelo choque do reconhecimento que a dominou, causando-lhe exatamente a mesma sensação de formigamento em todo o seu corpo que a percorrera pela manhã no saguão do hotel, quando ele a segurara.
Uma lembrança muito antiga de si mesma como adolescente lhe veio à cabeça. Podia visualizar-se dando risadinhas com uma colega de escola por causa de um jovem bonito que era ídolo pop, por quem as duas sentiam atração. Sentira-se viva na ocasião... feliz e inquestionavelmente segura em sua nascente sexualidade.
Demi pressionou Ollie mais junto ao corpo no mesmo momento em que o homem do saguão do hotel virou-se.
Ele não estava usando os óculos escuros, e ela podia ver-lhe os olhos.
Sentiu uma falta de ar tão grande que lhe causou dor física. Soube quem ele era imediatamente. Como não poderia tê-lo reconhecido quando os olhos à sua frente eram idênticos aos olhos de seu filho? Que ele e Ollie compartilhavam o mesmo sangue não havia dúvida... Todavia, ele não se parecia em nada com o pai de Ollie, o homem que a violentara! Joseph Jonas tinha um rosto carnudo e olhos castanhos frios, muito próximos um do outro. Aquele homem era alto, com ombros largos e o corpo, como ela já sabia, era rígido e musculoso.
Ele estava barbeado, os cabelos escuros bem penteados, enquanto Joseph deixava a barba sem aparar e os cabelos eram emplastados de gel.
Tudo naquele homem dizia que possuía altos padrões para si mesmo, e ainda mais para os outros. A palavra dele, uma vez dada, seria para sempre.
Tudo em Joseph dizia que ele não era confiável, mas, a despeito das diferenças entre os dois, aquele homem só podia ser parente do homem que a estuprara.
Ollie era a prova disso. Demi quis virar-se e fugir, o medo apossando-se de seu ser, enquanto sentia suas defesas enfraquecerem. Mas o medo que sentia não era por si mesma, teve tempo de reconhecer. Era um medo diferente, que parecia consumi-la. Instintivamente, sabia que aquele homem não era ameaça para ela. O interesse dele não era nela. Era no seu filho... em Ollie.
Sua boca ficou seca e seu coração batia descompassado, deixando-a sem forças. Não havia como fugir, ela sabia disso. Mesmo assim, tentou atrasar o inevitável, suas mãos tremendo quando afivelou Ollie no carrinho de bebê, e, então, relutantemente, empurrou a porta.
Ele a estava esperando no corredor e ajudou-a com o carrinho, a mão forte e bronzeada perto da dela.
Nicholas franziu o cenho diante da reação dela. Aquele medo era parte do legado que Joseph lhe deixara? Ele fora atingido por vê-la vulnerável mais cedo, e por seu próprio desejo não natural de tranquilizá-la.
Agora, aquele sentimento tinha voltado.
Nicholas não estava acostumado a sentimentos fortes por ninguém além dos membros imediatos de sua família. Nunca negara para si mesmo seu amor e senso de proteção pelos dois irmãos mais jovens, nem sua crença que, sendo o mais velho, na falta do amor do pai e da presença da mãe em suas vidas, era sua responsabilidade protegê-los e criá-los, mas nunca antes sentira aquela necessidade intensa de proteger emocionalmente qualquer outra pessoa.
Era por causa da criança, claro. Não poderia haver outro motivo para sua reação ilógica.
Tinham sido necessárias diversas horas de ligações telefônicas para detectá-la através da agência que a empregara... graças àquela recepcionista desprezível, que o impediu de segui-la no hotel.
Naquela manhã, Nicholas havia sentido pena de Demi. Agora estava motivado pelo seu dever ao nome de sua família a consertar a violência que Joseph cometera. E, é claro, assegurar que o filho de Joseph crescesse sabendo de sua herança Jonas. Levara tempo demais e muito dinheiro para rastreá-lo, mas agora que o localizara não havia dúvida que a criança era um Jonas. Ele soubera no minuto que o vira na creche. A herança do menino estava estampada em suas feições, e Nicholas vira pela expressão da mãe que ela sabia disso também.
Eles estavam do lado de fora agora, sem ninguém para ouvi-los.
— Quem é você? — perguntou Demi. — E o que quer?
— Sou Nicholas Jonas, o do meio dos meio-irmãos de Joseph, do primeiro casamento de nosso pai.
David havia mencionado a família de Joseph para ela... ou melhor, tentado. Mas Demi se recusara a ouvir. Joseph tinha, afinal de contas, se negado a reconhecer o próprio filho.
— Você é irmão de Joseph?
No tom de incredulidade dela, Nicholas detectou alguma coisa que parecia revolta.
Quase não podia culpá-la por isso. De fato, compartilhava sua revolta.
— Não — corrigiu ele inflexível. — Somos apenas meio-irmãos.
Como ela entendia aquela necessidade de diferenciar-se do suposto parente! Mas era ridículo permitir-se imaginar que tinha algo em comum com aquele homem que pudesse compartilhar a antipatia e a culpa que tanto fizera parte de seu sofrimento.
Mesmo agora, ainda podia ouvir sua mãe quase suplicando:
— Mas, querida, David está tentando ser seu amigo. Por que você não pode ser mais agradável?
Ela tentara arduamente explicar seus sentimentos à mãe, mas como se pode explicar algo que nem você mesma entende?
No final, aquilo levantou uma barreira entre eles... de um lado ficava David, o bom enteado, e do outro, ela, a filha má.
Onde ela tinha ido?, Nicholas imaginou, observando as sombras de dor que lhe escureciam os olhos. Para algum lugar no passado, reconheceu.
Todavia, ele estava ali para o presente e o futuro.
Ela devia ressentir-se de Joseph, mas seu amor pelo filho era óbvio. Segundo seus informantes, Demi era uma mãe exemplar, devota e amorosa, excetuando o fato que, por alguma razão, havia recusado a oferta do meio-irmão de um lar sob seu próprio teto. David Henrie não fora capaz de fornecer-lhe uma explicação lógica para aquela recusa, embora tivesse sugerido que existia alguma espécie de disputa entre os dois, a despeito de todas as suas tentativas de reparar o estrago.
— Ela sempre foi inclinada a ser muito emotiva e reagir de forma exagerada — David dissera a Nicholas. — Tudo que eu quis foi ajudá-la.
— Não houve amor entre nós três e Joseph. — A voz de Nicholas, seu inglês perfeito e sem sotaque, trouxe Demi de volta do passado. — Não vou esconder este fato de você... nem o fato que Joseph era o filho favorito de nosso pai. Posso também assegurá-la que a escolha de estilo de vida de Joseph não era a nossa. Isso nunca foi perdoado por nós.
Demi o olhou e depois desviou o olhar, seu coração batendo forte, como sempre acontecia toda vez que pensava na concepção de Ollie. Nicholas Jonas estava, obviamente, tentando dizer-lhe que ele e seus irmãos não eram da mesma espécie do meio-irmão caçula, e que o conceito de moral deles era muito diferente do de Joseph. Mas por quê?
Ele olhou para Ollie por um longo momento, então continuou:
— Antes de morrer, Joseph disse ao nosso pai que havia um filho. Mas morreu antes que pudesse revelar mais detalhes. Era tão grande o amor que nosso pai sentia por Joseph que ele exigiu que a criança fosse encontrada. Quando não se conseguiu localizar a criança, assumimos que a existência dela era outro exemplo do divertimento enganoso de Joseph, que gostava de enganar a todos. — Nicholas fez uma pausa e pôde notar, pelo modo como ela apertava a alça do carrinho, o quanto estava tensa.
A crueldade do que Demi sofrerá deixaria qualquer pessoa decente revoltada. O único aspecto que aliviava a situação era que ela, aparentemente, não recordava o ocorrido.
Não havia dúvida na mente de Nicholas que o estupro fora um ato deliberado de punição, com pretensão de humilhá-la... porque Joseph não fora bem-sucedido ao tentar seduzi-la.
— Naturalmente, quando chegou ao meu conhecimento que poderia haver uma criança, eu precisava descobrir a verdade.
Ele havia parado de andar agora, forçando Demi a fazer o mesmo.
— Como isso chegou ao seu conhecimento?
— Um amigo de Joseph me contou sobre sua bebida ter sido alterada e sobre o que ele fez.
Demi teve o desejo infantil de fechar os olhos, como se, de algum modo, tudo pudesse desaparecer magicamente.
Somente ouvi-lo dizer aquelas palavras era uma humilhação total e completa.
— Sei que você contatou Joseph para lhe contar do nascimento do filho dele...
— Não — exclamou Demi, — eu não entrei em contato com ele. Jamais faria isso. Foi meu meio-irmão. Eu não sabia de nada até que David me contou que Joseph estava negando o ocorrido.
Nicholas franziu o cenho. Seria aquele o motivo da briga entre eles?
— Seu meio-irmão não mencionou nada sobre a recusa de Joseph quando falei com ele. Estava mais preocupado com você e pediu-me para mantê-lo informado de qualquer progresso que eu tivesse na minha busca.
Demi sentiu como se seu coração tivesse parado de bater. Voltou-se para ele, implorando-lhe:
— Você não disse a ele onde estou, disse?
Nicholas cerrou o cenho mais ainda.
— Ele falou que seu único desejo é ajudar e proteger você.
Ajudar e protegê-la, mas não a Ollie. David não queria nada com o bebê dela, e, se pudesse, Ollie seria tirado de sua vida para sempre.
Quanto tempo tinha antes que David a encontrasse e começasse sua guerra incansável para fazê-la entregar Ollie para adoção novamente?
Todos sempre diziam como Demi era sortuda em ter um meio-irmão tão devotado, mas não o conheciam..
— Ele não deve saber onde estamos?
No seu estado de pânico, revelara mais do que deveria, reconheceu Demi enquanto via a maneira como Nicholas Jonas a observava. Ele estava esperando que ela lhe desse uma razão lógica pela qual não queria que David os encontrasse.
— David acredita que seria melhor se Ollie fosse adotado — ela declarou.
Porque ele não havia sido capaz de fazer Joseph pagar pelo que fez? Ou porque sentia que era a melhor opção para a criança?
Nicholas não precisava de muito tempo para considerar as duas opções. David lhe perguntara especificamente se Oliver receberia alguma herança de Joseph ou de sua família.
— Mas você não concorda com ele? — perguntou Nick.
— Não. Eu jamais poderia desistir de Ollie. Nada ou ninguém poderá me obrigar a fazer isso.
A paixão na expressão e na voz dela mudaram-na completamente, tornando-a, de repente, vivaz, revelando a verdadeira perfeição de sua delicada beleza.
Nicholas sentiu como se alguém houvesse golpeado seu peito, incapacitando-o de respirar devidamente.
— Concordo que uma criança tão pequena quanto Ollie precise da mãe — disse ele, assim que recuperou o controle. — Contudo, seu filho é um Jonas... e, como tal, é apropriado e certo que cresça entre seus familiares, seu próprio povo e no seu próprio país. É meu dever para com Oliver e para com minha família assegurar que ele seja criado como um Jonas... e que você, como mãe, seja tratada como a mãe de um Jonas deve ser tratada. Esta é a razão pela qual estou aqui. Para levar ambos para a L.A, comigo.
Demi o estudou. Aquela conversa de "dever" era um mundo à parte, que ela bem conhecia. Tal palavra pertencia a uma época feudal, entretanto. De algum modo, aquilo repercutia em seu interior.
— Você quer me levar e a Ollie para a L.A... para viver lá? — perguntou Demi, incrédula.
O "sim" dele foi sucinto, com uma leve inclinação da cabeça.
— Mas você não tem nenhuma prova de que Ollie é...
O olhar que ele lhe deu a fez calar-se.
— A evidência da ascendência da criança é bastante óbvia para nós dois — disse Nicholas. — Você viu isso por si mesma. — Ele pausou e olhou para o carrinho de bebê antes de voltar a encará-la. —A criança poderia ser minha. Tem as feições dos Jonas muito claramente.
Dele! Por que aquela declaração atingiu o coração de Demi tão completamente?
— Ele não se parece nada com Joseph — foi tudo que ela conseguiu dizer.
— Não — Nicholas concordou. — Joseph saiu à mãe, razão pela qual nosso pai o amava tanto. Ele era obcecado por ela, e essa obsessão matou nossa própria mãe e destruiu nossa infância, privando-nos do amor de nosso pai e da presença de nossa mãe. Isso não acontecerá com seu filho. Na L.A, ele terá você, que é a mãe, o amor e a proteção dos tios, e a companhia do primos. Será um Jonas.
Ele fazia tudo aquilo parecer tão simples e tão... tão certo! Mas Demi não sabia nada sobre Nicholas Jonas e sua família, exceto que eles queriam Ollie.
Como podia confiar nele... um estranho?
Como se Nicholas sentisse sua ansiedade, perguntou:
— Você ama seu filho, não ama?
— Claro que amo.
— Então, certamente vai querer o melhor para ele.
— Sim.
— Há de concordar, eu acho, que ele terá uma vida muito melhor crescendo na L.A, como um Jonas, do que teria aqui?
— Com uma mãe que trabalha como faxineira, você quer dizer? —Demi desafiou-o.
— Não sou eu quem faz as regras dos economistas, que dizem que uma criança financeiramente em desvantagem sofrerá uma vida dura. Ademais, não é só uma questão de dinheiro... embora isso seja importante. Você está sozinha no mundo... não tem mais contato com seu meio-irmão, e é toda a família que Oliver possui. Não é saudável para uma criança ter somente a mãe. Na L.A, Oliver terá uma família inteira. Se você o ama tanto como diz, então deverá querer ir para a L.A. O que, afinal de contas, a prende aqui?
Se a última pergunta tivesse sido brutal, era também verdadeira, Demi admitiu. Não havia nada que a fizesse permanecer ali, exceto, é claro, não querer ir para um país estrangeiro com um homem que não conhecia. Ninguém faz isso quando tem um bebê amado de seis meses para proteger. Mas na L.A não haveria David para temer. Nenhum medo de encontrar o meio-irmão debruçado sobre o berço de Oliver com aquele olhar fixo no rosto, como ela o vira em uma de suas visitas logo após o nascimento de Ollie.
Alguma coisa, Demi não sabia o que, exceto por instinto, dizia que nas mãos de Nicholas Jonas seu precioso filho estaria seguro, e que aquelas mãos o protegeriam contra qualquer perigo.
E quanto a ela? E quanto a indesejável reação perigosa que sentia por ele de mulher para homem? Demi lutou contra o pânico. Era em Ollie que tinha de pensar, não em si mesma. Nas necessidades de seu filho, não nas suas. Nicholas Jonas estava certo em dizer que Ollie teria uma vida muito melhor na L.A, como um Jonas, do que jamais poderia ter em Londres, sozinho com ela. Adicionando a ameaça em potencial de David a isso, havia somente uma decisão a tomar.
Demi lembrou-se que, naquela mesma manhã, rira de si mesma por desejar o impossível... uma varinha mágica para transportá-la para algum lugar onde ela e Ollie poderiam estar salvos.
O impossível tinha agora acontecido e ela deveria aproveitar a oportunidade pelo bem do filho. Por Ollie. Nada era mais importante para ela do que seu bebê.
Uma estranha tontura a deixou aérea, como se quase pudesse flutuar sobre a calçada. Levou alguns segundos para reconhecer que a sensação era de puro alívio.
As pessoas pensariam que estava louca, indo embora com um homem que não conhecia, confiando seu filho a ele. Se ela confidenciasse a Susie e Tom, que tinham sido tão bons, arranjando-lhe trabalho de pesquisa entre os amigos enquanto estava grávida, eles fariam perguntas e a alertariam para ter cuidado. Susie a faria recordar da oferta de David e a olharia com reprovação. Susie nunca entendera por que ela não aceitara a oferta de David de um lar. E tinha concordado com ele sobre os benefícios de uma adoção para Ollie.
— O que acontece se eu recusar? — perguntou Demi.
Nicholas estava esperando aquela pergunta.
— Se você recusar, então reivindicarei meus direitos como parente de sangue de Ollie, através da justiça.
— Você está me pedindo para aceitar algo muito pouco confiável — declarou ela. — Não tenho razão para confiar na sua família, e todos os motivos para desconfiar.
— Joseph nunca foi um verdadeiro Jonas. Pelo seu comportamento, desonrou a si mesmo, nosso nome e você. É meu dever tentar consertar as coisas. Tem minha palavra que não sofrerá nenhum mal enquanto estiver sob minha guarda.
Ele estava oferecendo-lhe algo que Demi já sabia sobre respeito e segurança. Que opção tinha a não ser aceitá-las quando eram oferecidas?
Ela respirou fundo, então perguntou, tão calma quanto podia:
— Quando teríamos de partir?
Ela havia se rendido muito mais facilmente do que Nicholas esperava.
Qual era o motivo para que desconfiasse dela?
Desconfiança? Não. Afinal de contas, conhecia tudo que deveria saber sobre Demi. Mas curiosidade? Talvez, sim.
— Breve — respondeu ele. — Quanto antes, melhor. Meu pai não está bem. De fato, está muito frágil, e deseja ver o filho de Joseph.
— Há coisas que eu preciso fazer — começou Demi.
— Tais como?
— Preciso notificar a creche de Ollie e o proprietário do apartamento que alugo. E tenho de checar se Ollie precisa de algumas injeções especiais para viajar para a L.A.
— Ele não precisa. E quanto à creche e seu apartamento, pode deixar por minha conta. Você e o bebê precisam, na verdade, de roupas adequadas para um clima quente. E temporada de verão na L.A agora.
Roupas novas? Como ela teria condições de comprar? Humildemente, como se adivinhasse seus pensamentos, Nicholas acrescentou, polidamente:
— Naturalmente, cobrirei os custos de tudo que for necessário.
— Não vou deixar você comprar roupas para nós.
— Não? Então terei de telefonar para uma das minhas cunhadas e pedir-lhe que providencie um guarda-roupa adequado para ambos. As duas são inglesas, e eu espero que você descubra muitas coisas em comum com elas. Meu irmão caçula, Frankie, e sua esposa já têm um filho adotivo... um menino da mesma idade de Ollie.
Os irmãos dele tinham esposas inglesas? Ela teria outra companhia feminina? Um pouco da ansiedade de Demi se desfez, mas voltou quando imaginou como as esposas dos irmãos dele reagiriam à sua presença.
— Você todos moram juntos? — perguntou, relutante. Demi tinha uma leve idéia de uma vida familiar italiana... mas não de uma família siciliana aristocrática.
— Sim e não. Frankie tem sua própria casa na ilha, enquanto Kevin e eu temos nossos próprios apartamentos dentro do castello Jonas, onde meu pai também vive. Você terá uma suíte pronta para ocupar quando chegar.
— Minha e de Ollie? — indagou Demi.
— Claro. O lugar dele é com você. Já lhe disse isso. — Nicholas olhou seu relógio de pulso: — Nos encontraremos amanhã a fim de fazer as compras necessárias. Poderei apanhá-los no seu apartamento, e então, com alguma sorte, estaremos prontos para partir para L.A à noite. Pedirei a Alessandra para providenciar um jato particular para nós. Quanto a toda a papelada referente à sua vida aqui, como falei, poderá deixar tudo por minha conta.
— E você não dirá a David que me encontrou?
Ela não pretendia perguntar e certamente não pretendia parecer tão patética em sua necessidade de afirmação, mas era tarde demais querer justificar o que não deveria ter falado. Nicholas a estava estudando, como se procurasse em seu rosto a confirmação de alguma coisa? Do quê? De seu medo de David?
— Não, não direi nada a ele — confirmou Nicholas. Ela estava com medo do meio-irmão. Ele já imaginara isso, mas a reação de Demi agora confirmava sua suspeita. Mas por quê?
— Se ele me encontrar, tentará persuadir-me a colocar Ollie para adoção.
— Não contarei nada. Fique tranqüila.

Já estava amanhecendo quando Demi acordou de repente de um sono maldormido, seu coração batendo descompassado e seus sentidos em alerta. Do lado de fora, na rua londrina, pôde ouvir uma motocicleta, trazendo alívio para seus nervos tensos.
Ela olhou para o berço onde Ollie dormia e rezou para que tivesse feito a coisa certa em concordar com a ida deles para a L.A... que não tivesse trocado uma forma de prisão por outra. Contanto que Ollie estivesse seguro, era tudo que importava.
Nada mais. Nada.                                                 

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Capitulo 1

Demi esfregou os olhos. Bem delineados e de um tom castanho-escuro, com cílios longos e espessos, eram olhos que qualquer mulher poderia orgulhar-se... se não estivessem tomados pelo cansaço e pela sensação de estarem cheios de areia.
Ela levantou a mão, seu pulso tão delgado, frágil, e afastou do rosto uma mecha de cabelos que cascateavam até os ombros. Normalmente, usava-os numa espécie de coque, mas Ollie os tinha puxado pouco tempo atrás quando ela lhe dera banho, e por isso Demi decidira deixá-los soltos.
Amava tanto seu bebê! Ele significava tudo para ela, e faria qualquer coisa para protegê-lo e mantê-lo seguro. Absolutamente qualquer coisa.
Ela lera a noite inteira. Trabalho de pesquisa de meio-expediente não pagava muito bem... Certamente, não tão bem quanto seu emprego anterior, onde trabalhara como pesquisadora para um romancista e roteirista. Tom pagava um bom salário, e Demi se tornara amiga dele e da esposa.
O rosto de Demi anuviou-se. A iluminação no seu pequeno apartamento de um quarto não era adequada para seu trabalho.

Próximo ao seu trabalho, sobre o espaço exíguo da mesinha dobrável, havia uma carta de seu meio-irmão entre a correspondência enviada ao seu velho endereço. Ela tremeu e olhou por cima do ombro, quase como se temesse que o próprio David pudesse de repente materializar-se.
Devid estava vivendo na casa que originalmente tinha pertencido ao pai dela, que deveria ter sido de Demi. Ele lhe roubara a casa... assim como lhe roubara... ela hesitou, não querendo pensar no seu meio-irmão.
Mas algumas vezes tinha de pensar, para segurança de Ollie. Seu meio-irmão desaprovava o fato de Demi ter ficado com Ollie, em vez de colocá-lo para adoção. Mas nada poderia fazê-la querer separar-se do bebê... nem mesmo as tentativas de David de criar-lhe um sentimento de culpa por conservá-lo. Ele havia insistido que outra pessoa, um casal, daria a ele uma vida melhor do que ela poderia oferecer como mãe solteira. David podia ser muito convincente e persuasivo, quando queria. Ela temera muito que ele pudesse receber o apoio de outras pessoas em defesa de sua causa.
Algumas vezes, Demi sentia que jamais seria capaz de parar de temer David e suas tentativas de separá-la de seu filho.
Ela jamais teria lhe contado sobre a gravidez, mas Susie, a esposa do autor para quem Demi trabalhara, tinha pensado que estava lhe fazendo um favor ao escrever a ele e contar-lhe o ocorrido. Susie ficara excitada quando David havia oferecido um lar a Demi depois que Ollie nascesse, e todo apoio que ela precisava.
Todavia, Demi recusara a oferta. Conhecia o meio-irmão melhor do que Susie, afinal de contas. Em vez disso, tinha permanecido no seu pequeno apartamento, usando a desculpa que queria que Ollie nascesse no hospital local por causa de sua excelente reputação.
Davi não gostara de ser descartado e havia insistido em continuar visitando Demi. Inicialmente, fingira concordar com sua decisão de manter o bebê, mas aquela atitude desaparecera assim que ele soubera que Joseph Jonas não iria responder à exigência de David por apoio financeiro para o filho de Joseph.
Não que David tivesse dito qualquer coisa sobre isso para Susie e Tom, que haviam sido tão bondosos com ela.
No final, Demi sentira-se tão desesperada e tão pressionada que, temendo que David encontrasse um meio de forçá-la a separar-se do bebê, algumas semanas depois do nascimento de Ollie, enquanto David estava na Escócia, resolvendo os assuntos de um primo mais velho de seu pai que falecera recentemente, ela havia decidido não renovar o aluguel de seu apartamento e mudar-se para começar uma nova vida para ela e Ollie.
Sem contar a ninguém o que estava fazendo, nem mesmo para Susie e Tom, que tinham sido convencidos por David, Demi encontrara um apartamento novo e um novo trabalho, então desaparecera, deixando instruções estritas que seu próximo endereço deveria permanecer confidencial.
Tinha sido fácil esconder-se numa cidade grande como Londres.
Aquilo fora há cinco meses, mas ela ainda não se sentia segura, nem um pouco.
Sentia-se culpada por não ter dito nada a Susie e Tom, mas não se sentia em condições de correr riscos. Eles não conheciam David, e não sabiam do que ele era capaz. Ela tremeu novamente, lembrando-se do quanto ficara infeliz logo que seus pais haviam se casado, e como tentara explicar à mãe o quanto David a fazia se sentir apreensiva, sempre observando tudo que ela fazia.
Ele estivera fora na ocasião, estudando em uma universidade, ele nos seus 19 anos e ela nos 12, mas depois que seus pais se casaram David decidira mudar o curso das coisas, morando na casa e viajando diariamente para sua nova universidade.
Devid não gostava da melhor amiga dela, Claire, e a mãe de Annie havia sugerido que seria melhor que Claire não freqüentasse mais a casa deles, depois de um incidente durante o qual David quase tinha atropelado Claire com o carro do pai, enquanto ela andava de bicicleta.
E agora David não gostava de Ollie. Demi tremeu novamente.
Ela nunca conhecera seu próprio pai. Um soldado, de uma longa linha de militares do Exército, ele havia morrido numa emboscada no exterior antes que Demi nascesse. Mas ela fora muito feliz com a mãe.
Seu pai os deixara em boa situação. Ele havia recebido uma herança da família, e a mãe de Demi sempre dizia que um dia seria de Demi. Mas agora era de David, porque a mãe deles morrera antes do segundo marido, significando que a casa tinha passado para as mãos dele e, depois, para as de David. A casa que deveria ser dela e de Ollie lhes fora usurpada.
Ela olhou ansiosamente na direção do berço do filho. Ollie estava adormecido. Incapaz de resistir à tentação, Demi levantou-se e ficou olhando para o bebê. Ele era tão bonito, tão perfeito que algumas vezes, só de olhá-lo, ela transbordava de tanto amor que sentia, como se o coração fosse arrebentar. Era um bebê calmo, saudável e feliz, e tão maravilhoso! Com seus cachos escuros, sedosos, e brilhantes olhos claros, com cílios negros espessos... que algumas pessoas paravam para admirá-lo. Era inteligente também, e curioso com o mundo à sua volta.
Eles o adoravam no berçário onde Demi tinha de levá-lo todos os dias da semana antes de ir para seu outro trabalho, de faxina... o único que conseguira sem que muitas perguntas fossem feitas. A maioria das outras na equipe na agência de limpadoras na qual trabalhava era estrangeira... trabalhando duro, mas relutante em conversar muito sobre si mesmas.
A atual vida de Demi era um mundo de distância do qual crescera e do futuro que esperava ter.
A infância de Ollie, diferente da dela, não seria numa casa grande e confortável, com seus enormes jardins, na pitoresca cidade de Dorset. A área da cidade onde eles viviam era precária, com grandes quarteirões de apartamentos, que antes ela teria ficado horrorizada só de pensar em morar ali, mas agora agradecia ao anonimato proporcionado e aos seus habitantes, que não faziam pergunta alguma.
Ollie abriu os olhos e a fitou, dando-lhe um sorriso radiante. Demi sentiu-se derreter. Ela o amava tanto! Que coisa extraordinária era o amor de mãe, capacitando-a a amar seu filho a despeito dos problemas de sua concepção.
Ela suspirou. Tentava não pensar sobre o que tinha acontecido em L.A. Felizmente, não possuía lembrança da terrível experiência em si, graças à droga que havia sido despejada em sua bebida. Susie, que a encontrara no quarto, ainda drogada e tonta, na manhã seguinte, depois da noite em que fora violentada, queria que ela fosse à polícia, mas Demi se recusara... chocada e temerosa demais, achava que eles não iriam acreditar nela. Susie tinha sido maravilhosa! Demi sentia falta da bondade e da amizade dela.
Como David, Susie havia sentido que o estuprador deveria, pelo menos, ser forçado a dar apoio financeiro ao bebê, e fora Susie que revelara a David o nome de Joseph... algo que a própria Demi se recusara a fazer.
Demi não ficou surpresa quando Joseph se negou a fazer qualquer coisa, e sentiu-se aliviada quando leu a respeito da morte dele nos jornais. Agora, nunca mais haveria necessidade de Ollie saber sobre seu pai, ou como tinha sido concebido. A menos que David os descobrisse.
Ela se considerava um tipo de pessoa realista e lógica, consciente da dura realidade da vida, mas algumas vezes, como aquela, quando se sentia terrivelmente só, desejava que existissem coisas como fadas-madrinhas que, com um movimento de sua varinha mágica, pudessem transportar Ollie e ela para um lugar onde estariam juntos e seguros, onde David simplesmente não pudesse alcançá-los.
Se acreditasse em fadas-madrinhas, anjos da guarda, então esse seria seu desejo... Mas é claro que não acreditava. E desejos não podiam se realizar somente porque alguém assim quer.

O saguão do hotel cinco estrelas estava vazio de hóspedes quando Demi abaixou-se para remover a goma de mascar do assoalho de mármore. A recepcionista, que parecia não ter gostado dela, sem motivo concreto, tinha lhe ordenado que pegasse o chiclete que caíra, e Demi estava totalmente consciente da mulher que havia atravessado o saguão na sua direção alguns minutos antes. Seus sapatos de salto alto batiam no assoalho de mármore e o olhar de desdém por Demi tinha sido muito evidente enquanto ela alisava a saia de seu traje indubitavelmente caro, e deixava o chiclete cair no chão.
O sol estava brilhando, seus raios batendo nos olhos de Demi e deixando-a tonta. Ela piscou, levantando a cabeça numa tentativa de evitar a luz, ofuscante demais.

Nicholas não estava de muito bom humor. Havia voado para Londres no início da semana e ido direto para a reunião com o diretor do que deveria ser a melhor agência do país na procura de pessoas. E, então, descobrira que, embora a agência inicialmente tivesse conseguido identificar Demi Lovato como a mãe do filho de Joseph, ela havia desaparecido cinco meses atrás, levando o bebê, e eles ainda não haviam conseguido encontrá-la.
Nick passara uma tarde infrutífera com o meio-irmão de Demi, por quem tivera uma rejeição imediata, e, agora, tinha recebido uma mensagem de seu irmão mais velho, Kevin, dizendo-lhe que a saúde do pai deles havia sofrido repentina queda.
— Ele está estável agora e de volta ao castello — Kevin informara. — Mas o médico afirma que ele está muito fragilizado.
Ele precisava ir para a L.A, Nick sabia, tinha um dever para com sua família de estar lá. Mas também tinha o dever para com aquela criança concebida tão violentamente pelo seu meio-irmão e rejeitada por ele como se não passasse de uma peça descartável.
Nicholas jamais gostara de Joseph.
Quando entrou no saguão de seu hotel, seus olhos protegidos da claridade do sol por óculos escuros debruados de ouro da grife Cartier, a primeira coisa que viu foi uma empregada ajoelhada no chão ao lado de um balde com água suja. Ela usava um avental azul, os cabelos estavam presos atrás da cabeça e o rosto, sem maquiagem, mas quando ergueu o rosto, para evitar a luz do sol nos olhos, o coração de Nicholas girou dentro do peito e começou a disparar.
Era ela! Não havia engano. Afinal de contas, ele tinha acabado de deixar o escritório onde os fotógrafos agrupavam-se em fila à sua frente. Não era possível não reconhecer aqueles olhos intensamente castanhos, nem o rosto, belamente delineado, com seu pequeno nariz reto e a boca suavemente carnuda... Mesmo que, agora, a pele da moça estivesse sem vida e seu rosto mostrasse linhas de exaustão.
A mão que ela estendeu para remover a goma de mascar do piso imaculado estava vermelha e inchada, o pulso parecia delgado e frágil. Mas era ela! Por algum milagre, era ela.
A recepcionista continuava olhando-a furiosamente, fazendo Demi sentir uma súbita onda de raiva. Ela havia trabalhado além das horas normais, e não receberia pagamento por isso, e retirar o chiclete do piso não era sua responsabilidade. Levantou-se de modo abrupto e, então, ofegou, devido a um esbarrão com alguém. Não apenas alguém, reconheceu, quando mãos másculas a agarraram, deslizando pela pele nua de seus braços. A intenção dele fora desviar-se, ela imaginou, para evitar que Demi tropeçasse, uma vez que um homem daquele porte dificilmente se importaria com o que acontecesse com alguém como ela.
Ele vestia um terno caro e óculos de sol, e os cabelos eram escuros e a pele bronzeada.
E continuava segurando-a... provavelmente, esperando que ela se desculpasse por ousar respirar o mesmo ar que ele, pensou Demi amargamente. Então, tentou desvencilhar-se, mas seu braço foi apertado ainda com mais firmeza. Ela o olhou. Um sentimento desconfortável estava tomando conta de seu corpo. Seu pulso começou a acelerar, e a respiração estava tão rápida quanto o ritmo do coração. Demi sentiu-se tonta, seus pulmões, privados de oxigênio, como se tivesse se esquecido como era respirar, todavia, respirava, embora muito instavelmente.
Um estranho tremor apoderou-se de seu corpo. Queria inclinar-se para ele, queria aqueles braços fortes ao seu redor, de tal forma que fosse pressionada contra a masculinidade do homem. Percebendo que seu corpo tinha esquentado perigosamente, sentiu culpa e vergonha.
O mais extraordinário sentimento envolveu Nick no instante em que a tocou.
Ele não sabia o que era, ou de onde tinha surgido. A única comparação que veio prontamente à sua cabeça era a lembrança de ser jovem e ficar em um dos mais perigosos penhascos da L.A, no meio de uma violenta tempestade, sentindo o vento atingi-lo, sabendo que poderia abatê-lo e fazer o que quisesse com ele.
Quisera tanto lutar contra o poder dos elementos como render-se a eles.
O que sentira havia sido uma mistura de pavor e prazer, uma consciência de um poder imenso e um desejo de testar-se contra isso. Era uma sensação de estar vivo, de estar à beira de algo perigoso e excitante.
A recepcionista deixara o balcão e estava se aproximando. De algum modo, Demi conseguiu livrar-se dele e pegar o balde, pretendendo se afastar rapidamente.
Podia ouvir a recepcionista desculpando-se, enquanto ela fugia.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Nemi - Atração Irresistivel

                     Sinopse

Nick Jonas fez uma careta. Aquilo deveria ser uma reunião em memória do aniversário de seu meio-irmão Joe, falecido. Foi idéia do pai deles, que Nick não aprovava... especialmente não como desculpa para que as pessoas se embriagassem. Mas, então, a maioria dos amigos de Joe compartilhava a paixão por um estilo de vida irresponsável e odioso.
Um deles exalava o cheiro de álcool perto de Nick agora, enquanto se inclinava trêmulo, sobre ele, confidenciando um assunto que não interessava a Nick.
— Joe alguma vez lhe falou sobre a mulher que embriagou em L.A no ano passado? Ele jurou que se vingaria dela por tê-lo descartado, e fez isso, realmente. Ouvi dizer que ela engravidou, e tentou reivindicar direitos, pois ele era o pai da criança.
Nick, que estivera prestes a afastar-se, chateado, irritado, virou-se para olhar o homem desagradável à sua frente.
— Recordo-me vagamente de Joe ter mencionado algo a respeito — mentiu ele —, mas por que você não refresca minha memória?
O sujeito embriagado ficou mais do que feliz em relatar:
— Nós a conhecemos em La Cita Bar. Ela não se divertia como as outras garotas de lá, embora estivesse com equipamentos da filmagem. Sempre vestida de saia e blusa, parecendo uma professora. Joe ensopou a camisa de champanhe por brincadeira, tentando animá-la, mas ela continuava indiferente a tudo. A maneira como o tratou, irritou-o profundamente. Rejeitando-o como se ela fosse especial. Joe nos contou que iria vingar-se dela, e, com certeza, vingou-se. Descobriu onde ela estava hospedada, depois subornou um dos garçons para colocar alguma coisa na bebida dela, a fim de narcotizá-la. Precisou três de nós para levá-la de volta ao quarto. Naturalmente, Joe nos fez jurar que seríamos discretos, ameaçando-nos de todos os modos se alguém viesse a saber daquilo. É claro que lhe contar agora é diferente, porque ele está morto e você é irmão dele. — O homem arrotou grosseiramente antes de continuar: — Joe nos obrigou a ficar de guarda do lado de fora. Contou-nos, depois, que havia tirado a virgindade dela.
A expressão do amigo de Joe tornou-se, subitamente, contida, enquanto o frio silêncio de Nick afetava seu estado de embriaguez, fazendo-o compenetrar-se da realidade despudorada do que estava relatando.
— Não que Joe tenha se safado disso — ele apressou-se a dizer a Nick. — O irmão da moça procurou-o, dizendo que ele a engravidara. Mas Joe falou que, não iria fazer o que ela reivindicava: sustentar o bebê.
Nick não disse uma palavra enquanto o amigo de seu falecido irmão tagarelava. Achou fácil, todavia, aceitar como verdade o incidente sórdido que o outro homem havia descrito. Aquilo era típico de Joe, e exatamente a razão pela qual Nick e seus dois irmãos mais jovens tinham se afastado tanto do meio-irmão durante seu tempo curto de vida, e não haviam pranteado sua morte.
— Qual era o nome dela? Você se recorda? — perguntou ele.
O homem franziu o cenho em concentração, antes de responder:
— Dani ou Demi, algo assim. Ela era inglesa, disso tenho certeza.
Nick olhou-o friamente e ele se afastou, sem dúvida, à procura de mais bebida.
Falcon refletiu enquanto olhava para onde seus dois irmãos e suas esposas estavam sentados com seu pai.
O pai deles, o príncipe, havia adorado e estragado o meio-irmão mais novo deles, o único filho que tivera com a mulher que fora sua amante durante seu casamento com a mãe de seus três filhos mais velhos... sua esposa, agora morta.
Ele tinha clamado, depois da morte de Joe num acidente de carro, que as últimas palavras do filho haviam declarado a existência de uma criança, concebida enquanto Joe estava em L.A, e exigira que a criança fosse encontrada.
Nick acreditara que já tinha feito o possível para tentar descobrir isso... sem sucesso... mas agora percebeu que havia negligenciado o fato que seu meio-irmão levara a vida sem o mínimo senso de humanidade.
Sabia o que precisava fazer agora, é claro. A única questão era se contava ou não aos irmãos antes ou depois que encontrasse a mulher que Joe havia drogado, violentado e engravidado... porque, certamente, iria encontrá-la. Mesmo se tivesse que procurar no mundo todo para chegar até ela. Sua honra e seu dever com o nome Jonas não aceitavam nada menos.
No geral, encontar-lhes, primeiro, seria mais fácil...