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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Capitulo 1

Demi esfregou os olhos. Bem delineados e de um tom castanho-escuro, com cílios longos e espessos, eram olhos que qualquer mulher poderia orgulhar-se... se não estivessem tomados pelo cansaço e pela sensação de estarem cheios de areia.
Ela levantou a mão, seu pulso tão delgado, frágil, e afastou do rosto uma mecha de cabelos que cascateavam até os ombros. Normalmente, usava-os numa espécie de coque, mas Ollie os tinha puxado pouco tempo atrás quando ela lhe dera banho, e por isso Demi decidira deixá-los soltos.
Amava tanto seu bebê! Ele significava tudo para ela, e faria qualquer coisa para protegê-lo e mantê-lo seguro. Absolutamente qualquer coisa.
Ela lera a noite inteira. Trabalho de pesquisa de meio-expediente não pagava muito bem... Certamente, não tão bem quanto seu emprego anterior, onde trabalhara como pesquisadora para um romancista e roteirista. Tom pagava um bom salário, e Demi se tornara amiga dele e da esposa.
O rosto de Demi anuviou-se. A iluminação no seu pequeno apartamento de um quarto não era adequada para seu trabalho.

Próximo ao seu trabalho, sobre o espaço exíguo da mesinha dobrável, havia uma carta de seu meio-irmão entre a correspondência enviada ao seu velho endereço. Ela tremeu e olhou por cima do ombro, quase como se temesse que o próprio David pudesse de repente materializar-se.
Devid estava vivendo na casa que originalmente tinha pertencido ao pai dela, que deveria ter sido de Demi. Ele lhe roubara a casa... assim como lhe roubara... ela hesitou, não querendo pensar no seu meio-irmão.
Mas algumas vezes tinha de pensar, para segurança de Ollie. Seu meio-irmão desaprovava o fato de Demi ter ficado com Ollie, em vez de colocá-lo para adoção. Mas nada poderia fazê-la querer separar-se do bebê... nem mesmo as tentativas de David de criar-lhe um sentimento de culpa por conservá-lo. Ele havia insistido que outra pessoa, um casal, daria a ele uma vida melhor do que ela poderia oferecer como mãe solteira. David podia ser muito convincente e persuasivo, quando queria. Ela temera muito que ele pudesse receber o apoio de outras pessoas em defesa de sua causa.
Algumas vezes, Demi sentia que jamais seria capaz de parar de temer David e suas tentativas de separá-la de seu filho.
Ela jamais teria lhe contado sobre a gravidez, mas Susie, a esposa do autor para quem Demi trabalhara, tinha pensado que estava lhe fazendo um favor ao escrever a ele e contar-lhe o ocorrido. Susie ficara excitada quando David havia oferecido um lar a Demi depois que Ollie nascesse, e todo apoio que ela precisava.
Todavia, Demi recusara a oferta. Conhecia o meio-irmão melhor do que Susie, afinal de contas. Em vez disso, tinha permanecido no seu pequeno apartamento, usando a desculpa que queria que Ollie nascesse no hospital local por causa de sua excelente reputação.
Davi não gostara de ser descartado e havia insistido em continuar visitando Demi. Inicialmente, fingira concordar com sua decisão de manter o bebê, mas aquela atitude desaparecera assim que ele soubera que Joseph Jonas não iria responder à exigência de David por apoio financeiro para o filho de Joseph.
Não que David tivesse dito qualquer coisa sobre isso para Susie e Tom, que haviam sido tão bondosos com ela.
No final, Demi sentira-se tão desesperada e tão pressionada que, temendo que David encontrasse um meio de forçá-la a separar-se do bebê, algumas semanas depois do nascimento de Ollie, enquanto David estava na Escócia, resolvendo os assuntos de um primo mais velho de seu pai que falecera recentemente, ela havia decidido não renovar o aluguel de seu apartamento e mudar-se para começar uma nova vida para ela e Ollie.
Sem contar a ninguém o que estava fazendo, nem mesmo para Susie e Tom, que tinham sido convencidos por David, Demi encontrara um apartamento novo e um novo trabalho, então desaparecera, deixando instruções estritas que seu próximo endereço deveria permanecer confidencial.
Tinha sido fácil esconder-se numa cidade grande como Londres.
Aquilo fora há cinco meses, mas ela ainda não se sentia segura, nem um pouco.
Sentia-se culpada por não ter dito nada a Susie e Tom, mas não se sentia em condições de correr riscos. Eles não conheciam David, e não sabiam do que ele era capaz. Ela tremeu novamente, lembrando-se do quanto ficara infeliz logo que seus pais haviam se casado, e como tentara explicar à mãe o quanto David a fazia se sentir apreensiva, sempre observando tudo que ela fazia.
Ele estivera fora na ocasião, estudando em uma universidade, ele nos seus 19 anos e ela nos 12, mas depois que seus pais se casaram David decidira mudar o curso das coisas, morando na casa e viajando diariamente para sua nova universidade.
Devid não gostava da melhor amiga dela, Claire, e a mãe de Annie havia sugerido que seria melhor que Claire não freqüentasse mais a casa deles, depois de um incidente durante o qual David quase tinha atropelado Claire com o carro do pai, enquanto ela andava de bicicleta.
E agora David não gostava de Ollie. Demi tremeu novamente.
Ela nunca conhecera seu próprio pai. Um soldado, de uma longa linha de militares do Exército, ele havia morrido numa emboscada no exterior antes que Demi nascesse. Mas ela fora muito feliz com a mãe.
Seu pai os deixara em boa situação. Ele havia recebido uma herança da família, e a mãe de Demi sempre dizia que um dia seria de Demi. Mas agora era de David, porque a mãe deles morrera antes do segundo marido, significando que a casa tinha passado para as mãos dele e, depois, para as de David. A casa que deveria ser dela e de Ollie lhes fora usurpada.
Ela olhou ansiosamente na direção do berço do filho. Ollie estava adormecido. Incapaz de resistir à tentação, Demi levantou-se e ficou olhando para o bebê. Ele era tão bonito, tão perfeito que algumas vezes, só de olhá-lo, ela transbordava de tanto amor que sentia, como se o coração fosse arrebentar. Era um bebê calmo, saudável e feliz, e tão maravilhoso! Com seus cachos escuros, sedosos, e brilhantes olhos claros, com cílios negros espessos... que algumas pessoas paravam para admirá-lo. Era inteligente também, e curioso com o mundo à sua volta.
Eles o adoravam no berçário onde Demi tinha de levá-lo todos os dias da semana antes de ir para seu outro trabalho, de faxina... o único que conseguira sem que muitas perguntas fossem feitas. A maioria das outras na equipe na agência de limpadoras na qual trabalhava era estrangeira... trabalhando duro, mas relutante em conversar muito sobre si mesmas.
A atual vida de Demi era um mundo de distância do qual crescera e do futuro que esperava ter.
A infância de Ollie, diferente da dela, não seria numa casa grande e confortável, com seus enormes jardins, na pitoresca cidade de Dorset. A área da cidade onde eles viviam era precária, com grandes quarteirões de apartamentos, que antes ela teria ficado horrorizada só de pensar em morar ali, mas agora agradecia ao anonimato proporcionado e aos seus habitantes, que não faziam pergunta alguma.
Ollie abriu os olhos e a fitou, dando-lhe um sorriso radiante. Demi sentiu-se derreter. Ela o amava tanto! Que coisa extraordinária era o amor de mãe, capacitando-a a amar seu filho a despeito dos problemas de sua concepção.
Ela suspirou. Tentava não pensar sobre o que tinha acontecido em L.A. Felizmente, não possuía lembrança da terrível experiência em si, graças à droga que havia sido despejada em sua bebida. Susie, que a encontrara no quarto, ainda drogada e tonta, na manhã seguinte, depois da noite em que fora violentada, queria que ela fosse à polícia, mas Demi se recusara... chocada e temerosa demais, achava que eles não iriam acreditar nela. Susie tinha sido maravilhosa! Demi sentia falta da bondade e da amizade dela.
Como David, Susie havia sentido que o estuprador deveria, pelo menos, ser forçado a dar apoio financeiro ao bebê, e fora Susie que revelara a David o nome de Joseph... algo que a própria Demi se recusara a fazer.
Demi não ficou surpresa quando Joseph se negou a fazer qualquer coisa, e sentiu-se aliviada quando leu a respeito da morte dele nos jornais. Agora, nunca mais haveria necessidade de Ollie saber sobre seu pai, ou como tinha sido concebido. A menos que David os descobrisse.
Ela se considerava um tipo de pessoa realista e lógica, consciente da dura realidade da vida, mas algumas vezes, como aquela, quando se sentia terrivelmente só, desejava que existissem coisas como fadas-madrinhas que, com um movimento de sua varinha mágica, pudessem transportar Ollie e ela para um lugar onde estariam juntos e seguros, onde David simplesmente não pudesse alcançá-los.
Se acreditasse em fadas-madrinhas, anjos da guarda, então esse seria seu desejo... Mas é claro que não acreditava. E desejos não podiam se realizar somente porque alguém assim quer.

O saguão do hotel cinco estrelas estava vazio de hóspedes quando Demi abaixou-se para remover a goma de mascar do assoalho de mármore. A recepcionista, que parecia não ter gostado dela, sem motivo concreto, tinha lhe ordenado que pegasse o chiclete que caíra, e Demi estava totalmente consciente da mulher que havia atravessado o saguão na sua direção alguns minutos antes. Seus sapatos de salto alto batiam no assoalho de mármore e o olhar de desdém por Demi tinha sido muito evidente enquanto ela alisava a saia de seu traje indubitavelmente caro, e deixava o chiclete cair no chão.
O sol estava brilhando, seus raios batendo nos olhos de Demi e deixando-a tonta. Ela piscou, levantando a cabeça numa tentativa de evitar a luz, ofuscante demais.

Nicholas não estava de muito bom humor. Havia voado para Londres no início da semana e ido direto para a reunião com o diretor do que deveria ser a melhor agência do país na procura de pessoas. E, então, descobrira que, embora a agência inicialmente tivesse conseguido identificar Demi Lovato como a mãe do filho de Joseph, ela havia desaparecido cinco meses atrás, levando o bebê, e eles ainda não haviam conseguido encontrá-la.
Nick passara uma tarde infrutífera com o meio-irmão de Demi, por quem tivera uma rejeição imediata, e, agora, tinha recebido uma mensagem de seu irmão mais velho, Kevin, dizendo-lhe que a saúde do pai deles havia sofrido repentina queda.
— Ele está estável agora e de volta ao castello — Kevin informara. — Mas o médico afirma que ele está muito fragilizado.
Ele precisava ir para a L.A, Nick sabia, tinha um dever para com sua família de estar lá. Mas também tinha o dever para com aquela criança concebida tão violentamente pelo seu meio-irmão e rejeitada por ele como se não passasse de uma peça descartável.
Nicholas jamais gostara de Joseph.
Quando entrou no saguão de seu hotel, seus olhos protegidos da claridade do sol por óculos escuros debruados de ouro da grife Cartier, a primeira coisa que viu foi uma empregada ajoelhada no chão ao lado de um balde com água suja. Ela usava um avental azul, os cabelos estavam presos atrás da cabeça e o rosto, sem maquiagem, mas quando ergueu o rosto, para evitar a luz do sol nos olhos, o coração de Nicholas girou dentro do peito e começou a disparar.
Era ela! Não havia engano. Afinal de contas, ele tinha acabado de deixar o escritório onde os fotógrafos agrupavam-se em fila à sua frente. Não era possível não reconhecer aqueles olhos intensamente castanhos, nem o rosto, belamente delineado, com seu pequeno nariz reto e a boca suavemente carnuda... Mesmo que, agora, a pele da moça estivesse sem vida e seu rosto mostrasse linhas de exaustão.
A mão que ela estendeu para remover a goma de mascar do piso imaculado estava vermelha e inchada, o pulso parecia delgado e frágil. Mas era ela! Por algum milagre, era ela.
A recepcionista continuava olhando-a furiosamente, fazendo Demi sentir uma súbita onda de raiva. Ela havia trabalhado além das horas normais, e não receberia pagamento por isso, e retirar o chiclete do piso não era sua responsabilidade. Levantou-se de modo abrupto e, então, ofegou, devido a um esbarrão com alguém. Não apenas alguém, reconheceu, quando mãos másculas a agarraram, deslizando pela pele nua de seus braços. A intenção dele fora desviar-se, ela imaginou, para evitar que Demi tropeçasse, uma vez que um homem daquele porte dificilmente se importaria com o que acontecesse com alguém como ela.
Ele vestia um terno caro e óculos de sol, e os cabelos eram escuros e a pele bronzeada.
E continuava segurando-a... provavelmente, esperando que ela se desculpasse por ousar respirar o mesmo ar que ele, pensou Demi amargamente. Então, tentou desvencilhar-se, mas seu braço foi apertado ainda com mais firmeza. Ela o olhou. Um sentimento desconfortável estava tomando conta de seu corpo. Seu pulso começou a acelerar, e a respiração estava tão rápida quanto o ritmo do coração. Demi sentiu-se tonta, seus pulmões, privados de oxigênio, como se tivesse se esquecido como era respirar, todavia, respirava, embora muito instavelmente.
Um estranho tremor apoderou-se de seu corpo. Queria inclinar-se para ele, queria aqueles braços fortes ao seu redor, de tal forma que fosse pressionada contra a masculinidade do homem. Percebendo que seu corpo tinha esquentado perigosamente, sentiu culpa e vergonha.
O mais extraordinário sentimento envolveu Nick no instante em que a tocou.
Ele não sabia o que era, ou de onde tinha surgido. A única comparação que veio prontamente à sua cabeça era a lembrança de ser jovem e ficar em um dos mais perigosos penhascos da L.A, no meio de uma violenta tempestade, sentindo o vento atingi-lo, sabendo que poderia abatê-lo e fazer o que quisesse com ele.
Quisera tanto lutar contra o poder dos elementos como render-se a eles.
O que sentira havia sido uma mistura de pavor e prazer, uma consciência de um poder imenso e um desejo de testar-se contra isso. Era uma sensação de estar vivo, de estar à beira de algo perigoso e excitante.
A recepcionista deixara o balcão e estava se aproximando. De algum modo, Demi conseguiu livrar-se dele e pegar o balde, pretendendo se afastar rapidamente.
Podia ouvir a recepcionista desculpando-se, enquanto ela fugia.

Um comentário:

  1. Oiiiiiiiiiiie seguidora nova õ/

    Pooosta loogo bebê amo Nemi & Jemi...

    To amando a fic *o*

    Tem msn??

    -BjNaBunda

    Em outras línguas:

    -XoXO S2

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