— Estive pensando — disse Nick, inclinando-se sobre a mesa de ferro batido no terraço, onde eles estavam sentados, bebendo um aperitivo antes do jantar. Ele tinha chegado de Florença apenas meia hora atrás. Demi o vira chegando pela alameda pavimentada do Castello. Observara-o sair do carro com sua altura mediana e seus ombros musculosos, e depois pegar seu laptop e o paletó, que jogou sobre os ombros antes de subir os degraus de mármore que levavam à entrada principal do Castello.
O primeiro botão da camisa estava desabotoado, o brilho do sol do fim da tarde batendo ali e quase destacando os pelos escuros do seu peito másculo. Havia algo de tão íntimo naquele olhar que a fez se perguntar se era errado olhá-lo daquela maneira e ficar tão consciente de sua masculinidade.
Não era como se estivesse esperando pela volta de Nick. A única razão pela qual estivera no primeiro andar do Castello, e, então, testemunhara a chegada dele pela janela de um dos magníficos salões, era porque Maria insistira em levá-la num passeio pelos salões.
O Castello era enorme, com porões e sótãos, e três a quatro andares entre eles. Tinha três torres, um imenso salão de festa, e era, na verdade, uma combinação do Castello original com um palácio do século XVII, que um dos ancestrais de Nick tinha construído para expandir o edifício original.
Ele mudara de roupa e vestia jeans desbotado e uma camisa de linho branca, sapato esporte, sem meia. Parecia casualmente relaxado, enquanto ela se sentia tensa e desconfortável em um de seus vestidos novos. Não queria que Nick pensasse que havia deliberadamente tentado parecer mais atraente para ele.
Não era o caso, em absoluto. Demi simplesmente pegara o primeiro vestido que lhe caíra nas mãos, depois que ele entrara no salão onde ela estivera com Maria e a convidara para um drinque no terraço antes do jantar.
Aquela noite seria a primeira vez que jantaria com Nick desde que chegara ao Castello. Nas outras noites, jantara sozinha, no quarto, satisfeita por estar segura com Ollie, não querendo nada ou ninguém mais.
Não era sua culpa se o vestido que escolhera ao acaso fosse justo e sem mangas. Demi nem sequer olhara para o espelho antes de sair do quarto, apenas passando uma escova nos cabelos e um leve batom nos lábios.
Tinha sido somente quando estava saindo do quarto, com Ollie no colo, que dera uma olhada no espelho, percebendo o quanto o tecido modelava as linhas de seu corpo.
Era tarde demais para voltar e trocar de vestido, mas confortou-se com o pensamento de que estaria sentada e que o decote não revelava muito as curvas dos seios.
Isso tinha sido antes que percebesse que Nick já estava no terraço, e que iria à direção dela, para pegar Ollie, e, então, iria examiná-la, de uma maneira silenciosa e muito significativa. Seu coração bateu descompassado pelo modo como ele sorrira antes de pôr Oliver na cadeirinha alta junto à mesa.
Não era no modo como Nick lhe sorrira cinco minutos atrás que Demi devia se concentrar, e sim no que ele acabara de lhe dizer: que estivera pensando em alguma coisa. O que seria? Teria mudado de ideia sobre seu plano de transformá-la numa mulher completa e sexual? Claro, se fosse isso, ela ficaria aliviada. Ficaria mesmo?
Demi tomou um gole de seu drinque. Normalmente, não bebia, mas o vinho gelado que Nick a persuadira a experimentar estava delicioso. Ela podia se sentir relaxada e sua tensão diminuíra, como se não estivesse apreensiva pensando no que ele lhe dissera. E que resposta ela lhe daria.
— Enquanto eu estive em Florença, falei com um membro da família de minha mãe falecida. Uma das casas mais velhas da família está sendo esvaziada de seus tesouros, incluindo os livros da biblioteca. Ele perguntou-me se podíamos conservar os livros aqui, com o que, obviamente, concordei. A história da família de minha mãe é muito interessante. Eles eram, originariamente, mercadores de seda, no século XV, o que possibilitou que eles comprassem um título de nobreza e se tornassem muito ricos e bem relacionados. O casamento entre meus pais foi um acordo entre o tio de meu pai e de minha mãe, para benefício financeiro mútuo e prestígio social. Contudo, meu pai nunca permitiu nossa mãe esquecer que, enquanto a linha familiar dele descendia diretamente da nobreza, a dela vinha da classe de mercadores.
— Sua mãe deve ter sido tão ferida! — disse Demi, com ênfase.
— Ela sofreu muito por causa da crueldade de meu pai. Como filhos, nós todos sentíamos que nossa mãe não nos amava o suficiente para querer viver, mas é claro que isso não era verdade. A realidade é que ela morreu de complicações após o nascimento de Frankie.
Demi podia imaginar o desespero dos três filhos sentindo falta da mãe. Seu coração compadeceu-se daqueles garotinhos carentes de amor.
— Crescer sem sua mãe deve ter sido horrível para você.
— Como crescer sem seu pai deve ter sido para você. A compreensão do que isso significa é algo que compartilhamos. Se você decidir aprender italiano, um dia lerá a história das famílias de meus pais. A biblioteca aqui no Castello tem muitos diários pessoais.
Imediatamente, os olhos de Demi se iluminaram, numa antecipação excitada.
— Não há nada que eu gostaria mais de fazer — ela admitiu.
— Então, darei algumas buscas e encontrarei um professor para você. Ou se preferir, pode fazer um curso de idiomas em Florença. Meu apartamento lá é grande o suficiente para acomodar você e Ollie.
Ele estava sendo tão bondoso! Enquanto ela o ouvia, percebeu que Nick começou a completar sua taça de vinho.
— Oh, não! Não mais para mim. Não bebo normalmente — ela começou, mas Nick ignorou-a e continuou a despejar o vinho.
— Não sou a favor de pessoas que bebem mais do que devem, mas é importante que você aprenda a beber algumas taças de vinho sem que o álcool suba à sua cabeça. Isso lhe dará segurança em situações sociais. Outra coisa estive também pensando sobre você e Oliver enquanto estava em Florença.
O coração de Demi disparou, portanto ela tomou outro gole de vinho. Era gostoso e quente, e uma sensação relaxante estava começando a envolvê-la.
— Se você quer alguma qualidade de vida para si mesma, então precisará confiar em alguém para tomar conta de Oliver na sua ausência.
— Não quero ninguém tomando conta dele — protestou Demi. — Eu o amo e quero estar com ele.
— Não é saudável quando mãe e filho têm somente um ao outro. Normalmente, nas famílias italianas, há sempre alguém para ajudar a mãe. Ela não cria o filho sozinha. Já falei com Maria, e ela tem uma prima que trabalhou como enfermeira de berçário. Ela e o marido voltaram recentemente a morar na ilha, e eu a chamarei ao Castello quando você se sentir pronta para falar com ela. Pode entrevistá-la. Se decidir que é adequada, então estará lhe fazendo um favor também.
Noblesse oblige, pensou Demi, mas sabia que o que ele estava dizendo fazia sentido, portanto, assentiu, e disse:
— Ollie está com sono. É melhor eu levá-lo para cima e colocá-lo no berço.
Nick levantou-se e foi tirar Ollie de seu cadeirão.
— Eu o carregarei para você. Tenho o pressentimento que se eu deixá-la subir sozinha, você não voltaria. E, como sabe, temos um assunto importante para discutir.
Demi estava satisfeita por não estar carregando Ollie, pois, caso contrário, poderia derrubá-lo, tão grande era o efeito das palavras de Nick sobre ela.
—Não levarei muito tempo para pôr Ollie na cama. Ele é tão bonzinho! — Ela sorriu amorosamente quando beijou a testa do filho.
Nick virou-se e permaneceu de pé, observando-a.
— Oliver é uma criança de sorte por ter tão devotada mãe.
Estaria Nick pensando em sua própria mãe? E como ele e seus irmãos tinham se enganado em sentir que ela não os amara o suficiente para desafiar a morte e estar com eles?
Instintivamente, Demi aproximou-se, para confortá-lo.
— Tenho certeza que sua mãe amou vocês todos, Nick, mesmo que quando criança você tivesse a impressão que ela escolhera não viver.
Demi havia tocado o braço dele numa espécie de gesto terno e natural... Mas agora, quando ele se aproximou, ela sentiu o calor da pele de Nick sob seus dedos, um sentimento diferente do que aquele que a levara a tocá-lo. Retirando a mão, rapidamente virou-se em direção à porta, seu rosto quente.
— Você tem uma natureza muito compassiva — ela escutou Nick murmurando. — E acho que está certa. Como adulto, é piedade que sinto por minha mãe, mais do que desgosto, que sua morte me causou quando menino. Ela costumava dizer que nos criar era seu dever, e que ela era um sacrifício em si.
Demi teve de lutar muito para não revelar seu choque. Pobre mulher! Deveria ter sido terrivelmente infeliz para ter falado com seu filho daquele modo, em vez de protegê-lo de sua própria infelicidade. Ela nunca faria isso com Ollie.
Jamais! Queria que ele crescesse feliz e livre de qualquer sentimento de culpa sobre ela ou sobre si mesmo.
Eles jantaram: queijo de cabra quente com tomates e ervas como entrada e, depois, frango grelhado e um prato de massa absolutamente delicioso.
Demi já tinha aprendido com Maria que a maioria do staff do Castello era constituído por pessoas locais, e que suas famílias haviam vivido e trabalhado nas terras dos Jonas por inúmeras gerações... Mesmo o chef.
Ela bebera outra taça de vinho, com a refeição, e agora eles tinham acabado de tomar café. Embora Demi lamentavelmente tivesse recusado os petit fours de chocolate com o café... porque estava se sentindo muito nervosa.
Durante toda a refeição Nick havia respondido a perguntas curiosas sobre a natureza feudal da região e o relacionamento entre seu pai, o velho príncipe, e as pessoas que dependiam dele, quase como se ainda fosse o governante do povo. Nem uma vez fez qualquer referência ao fato que ela não havia tomado uma decisão.
— A atitude de meu pai em relação à terra e ao povo é feudal. E isso é um assunto de grande preocupação para mim e meus irmãos. Somos todos afortunados por termos nos tornado financeiramente bem-sucedidos no mundo moderno. A oportunidade de viver neste mundo moderno é a que eu prometi dar ao nosso povo, a despeito do desejo de nosso pai de mantê-los presos ao passado.
— E por falar em pessoas presas ao passado... — Ele levantou-se. —Acho que um passeio pelos jardins nos ajudará a digerir o jantar. E enquanto caminhamos você pode me contar sobre sua decisão a respeito da oferta que fiz. —Demi ofegou de imediato. — O que aconteceu? — perguntou Nick.
— Pensei que você talvez tivesse mudado de ideia. Por isso não mencionei nada até agora.
— Você pensou ou esperou? — ele a desafiou, mesmo enquanto seu leve toque, rapidamente removido, guiava-a em direção aos degraus que levavam aos jardins.
Era mais escuro ali do que no terraço. Uma sensação estranha fez a pele de Demi arrepiar. A noite estava cheia de perigos ocultos... ou eram promessas escondidas?
O que, pelo amor de Deus, a fizera pensar naquilo?
A lua proporcionava luz suficiente para se observar as montanhas, prateando a terra dos Jonas, as plantações de oliveiras e os campos mais próximos ao Castello.
Seu filho era agora parte daquilo tudo... mas era parte dela, também. Em algum lugar, um pássaro piou alto, provocando-lhe um sobressalto e fazendo-a tropeçar. Imediatamente, Nick moveu-se para segurá-la, uma das mãos espalmada em suas costas, a outra, envolvendo seu pulso.
Ele a teria virado para seu próprio corpo ou Annie tinha feito aquilo? Ela não sabia. Sabia apenas que estava profundamente certa da presença de Nick. Podia sentir o cheiro da pele máscula, a familiaridade do aroma transportando-a de volta para a primeira vez que se viram.
— Você está quente o suficiente?
Teria ele percebido o arrepio que percorrera a pele dela? Mas não era por causa do frio. O ar da noite estava ameno.
— Está tarde — disse ela, olhando para o Castello.
— Tarde demais para mudar sua ideia — replicou Nick.
Ele havia se movido para mais perto... muito mais perto. Estavam de pé, frente a frente. Uma das mãos grandes ainda descansava nas suas costas, enquanto a outra...
Demi teve de engolir em seco. A ponta do dedo da outra mão estava alisando seu braço numa cadeia que a enlouquecia.
Estava tremendo abertamente agora, incapaz de esconder sua reação.
Mas ainda fez uma tentativa corajosa de encará-lo, dizendo:
— Eu não tomei uma decisão ainda.
Nick estava tão perto, o calor que emanava de seu corpo envolvendo-a, a respiração soprando no seu rosto e fazendo-a erguer a cabeça como se quisesse capturar o sopro com os lábios.
— Sim, tomou—ele afirmou. —Disse isso quando completei sua taça de vinho e você tremeu. Quando olhou para minha boca durante o jantar. Agora mesmo, quando tremeu em reação ao meu toque. Você me disse que estava pronta para ser excitada por mim. Seu corpo sinalizou sua curiosidade e seu interesse.
Demi abriu a boca para objetar, para dizer-lhe que estava errado, mas o pássaro invisível gritou novamente, e arfando ela se aproximou mais de Nick.
Era a coisa errada a fazer. O braço dele a envolvia, segurando-a contra si, enquanto o corpo de Demi tremia sob os dedos que tocavam seu braço.
De algum modo, sem saber o que estava fazendo, cobriu a mão de Nick com a dela e lhe apertou os dedos.
— Como se sente? — perguntou ele, roçando-lhe o braço sensualmente.
— Não sei — mentiu Demi, mas é claro que sabia. Era uma sensação perigosamente erótica.
Por baixo de seu vestido, podia sentir os mamilos intumescendo, enquanto um calor invadia seu baixo-ventre e o interior de suas coxas começava a pulsar, a sensação espalhando-se por todo o corpo.
Queria fechar os olhos e simplesmente inclinar-se contra Nick, de modo que ele pudesse segurá-la e acariciá-la, aquelas mãos mágicas tocassem todos os lugares que agora suplicavam pelo seu toque.
Ela entrou em pânico e afastou-se. Tudo que David havia lhe dito, de repente, invadiu sua cabeça, deixando-a constrangida, atônita.
Nick deu um passo atrás, ainda segurando a mão dela, enquanto a conduzia mais para o fundo do jardim. O perigo passara, ela estava segura. Mas era segurança o que realmente ela queria? Não houvera um momento, ainda agora, quando tinha imaginado com avidez o toque da boca de Nick?
— Você é uma mulher muito desejável para qualquer homem — ele disse.
Aquilo a fez parar e virar-se para confrontá-lo.
— Você não precisa me dizer coisas como essas. Na verdade, eu preferiria que não dissesse. Não sou uma tola completa, mesmo sendo sexualmente inexperiente. Sei muito bem que você está apenas tentando ser gentil para obter minha confiança. Um homem como você jamais me acharia desejável.
O luar caiu diretamente sobre o rosto de Nick, iluminando sua estrutura sensualmente máscula e fazendo-a sentir um desejo latente. O que estava acontecendo com ela? O que quer que fosse, estava acontecendo rápido demais.
— Como você mesma admite, você não sabe nada sobre as necessidades e os desejos do meu sexo. Na verdade, tem a habilidade de excitar-me sem fazer nada, apenas respondendo com naturalidade a mim. O fato de me despertar o desejo sem fazer nada é tão incomum para mim como é para você.
— Eu... Estou lisonjeada que...
— Por eu achá-la desejável? Que estar aqui ao luar com você me excita? Tenho de ir devagar se não quero perder a cabeça, assim como minha eficiência como seu instrutor...
O rosto dele estava na sombra, agora, mas Demi podia afirmar, pelo tom da voz de Nick, que ele estava sorrindo... O que devia significar que a eventualidade à qual se referia, isto é, estar perdendo a cabeça, simplesmente não ia acontecer. E aquilo era um alívio para ela. É claro que sim. A última coisa que ela desejava era Nick tão excitado com a intimidade deles que perdesse o controle e fizesse amor apaixonado com ela... Não era?
— Preciso entrar. Não gosto de deixar Ollie sozinho.
— Não se preocupe. Pedi a Maria para ficar de olho nele. Sabia que esse seu coração maternal ficaria ansioso. — Antes que Demi pudesse agradecer, ele continuou: — Dentro de aproximadamente uma semana, assim que você se estabelecer, pensei em tirar um dia de folga para lhe mostrar, e a Oliver, alguma coisa da ilha.
— Obrigada, eu adoraria. — Afinal, era verdade. Ela gostaria de conhecer a ilha.
Eles estavam bem imersos no jardim agora, ocultos do luar pelos galhos das árvores, e Nick deu um suave beijo em sua testa e disse:
— Agora pode relaxar, porque a primeira lição está quase terminando.
— Espero que você não queira dizer que vai fazer alguns testes comigo — respondeu Demi, aliviada, então reconheceu seu engano quando Nick riu.
— Oh, pretendo realmente fazer isso — ele assegurou. — Para ver se você prestou atenção ao que eu fiz para que consiga retribuir as carícias. Mas não ainda.
Ele esperava que ela o acariciasse... Que lhe enviasse aqueles mesmos tremores de deleite que tinham percorrido seu próprio corpo? Impossível!
— Há apenas mais uma coisa que pretendo fazer esta noite, antes que a deixe escapar da minha orientação.
Uma coisa mais? O coração de Demi disparou quando Nick levou uma das mãos ao seu rosto, passou então o polegar por seus lábios entreabertos, roçando neles suavemente, deixando o corpo dela e sua sensualidade assumirem o controle.
O braço de Nick estava ao seu redor, suportando-a, enquanto um dos polegares acariciava seus lábios entreabertos. Sem mesmo pensar a respeito, Demi tocou o polegar com a ponta da língua, explorando sua textura e seu gosto, circulando-o de modo ousado, enquanto percebia o quanto se sentia poderosa com um pouco do controle que tomara.
Perdida na excitação do que fazia, nem sequer notou, a princípio, que Nick tinha recolhido o polegar e o substituíra pela própria boca, até que começou a beijá-la.
Não havia possibilidade de Demi recuar, e isso também não fazia sentido.
Então, entregou-se ao beijo sensual. Nick segurava o rosto de Demi com ambas as mãos, acariciando-lhe a pele enquanto aprofundava o beijo, enlouquecendo-a de prazer.
Demi gemeu contra a boca de Nick. Sentiu-se estremecer e pressionou seu corpo avidamente contra o dele. Ficou desapontada e com sensação de perda quando Nick parou de beijá-la... Apenas para lamber desde sua orelha até os ombros, e voltar à clavícula. Ele curvou a cabeça, encorajando-a a enfiar os dedos em seus cabelos.
Era como uma montanha-russa.
Demi podia sentir seu coração batendo tão forte que parecia estar saindo do seu corpo. E, então, percebeu que as batidas que a faziam estremecer não eram as do seu coração, mas as do coração de Nick. Um prazer muito doce a envolveu. Nick estava gostando de beijá-la.
Ela, uma mulher que pensara não ser mulher de verdade!
Gratidão e exaltação percorreram seu corpo, mas foram rapidamente esquecidas quando Nick a beijou de novo, cobrindo-lhe a boca com a dele, novamente, e começando uma dança erótica de línguas, enquanto as mãos quentes moviam-se pelo corpo de Demi, as palmas acariciando-lhe os seios.
Imediatamente, Demi ficou tensa, seu prazer quebrado pelo súbito reconhecimento de que as coisas estavam caminhando rápido demais.
Como se o próprio Nick percebesse aquele fato, liberou-a, inclinando a testa contra a dela antes de dizer, com voz rouca:
— É uma lástima que esse seu vestido não possua um zíper, porque, se possuísse, eu estaria acariciando seus seios com minhas mãos e com meus lábios. Há algo quase insuportavelmente erótico na visão do corpo nu de uma mulher ao luar.
Demi tremeu de modo selvagem e afastou-se.
— Eu realmente preciso ir.
— Sim — concordou Nick. — Acho que você precisa... A menos que queira que eu leve a lição desta noite mais longe do que planejei.
Ele não estava perguntando se ela queria o que acabara de descrever, estava? Demi pensou tonta de excitação. Não podia estar. Eles estavam a uma longa distância daquele estágio ainda. Na verdade, ela nem sequer tinha certeza se seria capaz de ir tão longe.
Demi não podia dormir. Tinha tentado... Arduamente. Mas todas as vezes que fechava os olhos era como se estivesse de volta ao jardim, com Nick. De fato, as imagens eram tão vividas que quase o via e sentia. O calor dele contra seu corpo, o toque na sua pele, os beijos, a voz rouca enquanto murmurava o que faria com ela...
Não adiantava. Demi afastou as cobertas e saiu da cama. Estava tão quente naquela noite que mesmo o toque da camiseta de algodão, que usava para dormir, parecia desagradável e indesejável contra a sua pele.
Porque o que realmente queria era o toque das mãos de Nick?
Aquilo era ridículo. Ela estava satisfeita, é claro, por redescobrir sua sexualidade. Não esperava que o que sentira seria tão... tão intenso. Tinha imaginado que se sentiria nervosa e insegura, mas era como se, de algum modo, Nick tivesse lançado um feitiço sobre ela, acabando com sua ansiedade.
Demi foi até o quarto onde Ollie estava dormindo profundamente... como ela mesma deveria estar e, sem dúvida, Nick estava.
Nick olhou para a tela do computador à sua frente sem ver nada. Incapaz de dormir tinha decidido trabalhar num novo projeto arquitetônico. Amava seu trabalho. Seu amor pela beleza dos edifícios de Florença era um presente de sua mãe para ele, uma vez que Florença tinha sido seu lar. Demi gostaria da cidade, e ele ficaria feliz com o prazer dela. Como naquela noite...
Não adiantava mentir para si mesmo: a verdade era que fora pego desprevenido pela intensidade de seu próprio desejo por Demi... pela doçura da resposta que ela proporcionou.
Sentou-se na cadeira e suspirou vagarosamente. O objetivo do exercício não era seu prazer, mas a redescoberta da sexualidade perdida de Demi. E se tivesse experimentado desejo por ela naquela noite, então não poderia permitir que a situação se repetisse. No futuro, precisava manter o foco no progresso de Demi.
Se não fosse capaz de fazer isso, seria tão culpado de abusar dela como David.
Ele levantou-se e caminhou até as janelas. Seu apartamento era na parte original do Castello, remodelado para receber aposentos modernos no que era essencialmente um edifício do século XX. As paredes haviam sido despojadas de suas pedras naturais e pedras calcárias tinham sido colocadas no piso do apartamento de dois andares. Derrubar a parede exterior permitira, com técnicas modernas, substituir a velha parede por outras, de vidro, do chão ao teto, que davam para um pátio pedregoso, com vista para o mar.
Na área renovada, havia muito espaço para uma sala íntima, com vidros e paredes de alvenaria polida, com uma pequena cozinha modera e, também com vista para o mar.
Uma escada com acabamento de metal levava a três quartos, cada um com seu próprio banheiro. O apartamento era mobiliado com o que existia de melhor em artigos de couro e madeira, assim como aço e artesanato.
Era um espaço aberto e naturalmente iluminado. Nick cerrou o cenho. Estava muito introspectivo, quando não havia necessidade. Melhor que pensasse em Demi do que em sua infância.
Duvidava que Demi aprovasse aquele apartamento. Ela o acharia inadequado para crianças. Seu ideal seria algo mais como o palacete nos arredores de Florença, que seu segundo irmão comprara para a nova esposa... uma casa grande e elegante, que acomodaria qualquer número de filhos em segurança e conforto.
Era seu dever, entretanto, como filho mais velho, manter sua presença ali. Quando o pai morresse, as pessoas esperariam que Nick estivesse presente.
Mas era Demi e Oliver, e suas necessidades, que o estavam preocupando agora, mais do que as pessoas de seu povo.
Demi! Ela estava invadindo seus pensamentos e seus sentidos de uma forma mais profunda e intensa do que ele esperava. Mas não era culpa dela!
Demi, obviamente, não fazia a mínima ideia do quanto sentir seu corpo tremendo por suas carícias o excitara.
Uma reação como aquela podia subir à cabeça de um homem facilmente, deixando-o vulnerável demais.
Seu corpo estava doendo. Já fazia longo tempo que tivera um relacionamento. O efeito de muitas mulheres atirando-se aos seus pés com frequência o tornara exigente, pelas mulheres que namorava, e cínico, sobre a probabilidade de encontrar amor e a espécie certa de esposa. A nível prático, era importante que sua esposa entendesse seu compromisso com seu povo e quisesse compartilhar tal compromisso com ele. Mas era igualmente importante que houvesse absoluta fidelidade da parte de ambos.
O caso de seu pai o deixara com aversão à infidelidade conjugal.
Seus irmãos tinham sorte! Haviam se apaixonado e eram amados.
Ele, por outro lado, precisava equilibrar suas próprias necessidades com as do sobrenome Jonas e de seu povo. Paixão e praticidade. Poderiam seguir juntas? Ou uma sempre teria de ser sacrificada pela outra?
Se assim fosse, Nick precisava favorecer a praticidade, em benefício dos outros, sobre a paixão, para seu próprio benefício.
Seu corpo ainda doía com desejo insatisfeito e contido.
Se fechasse os olhos, seria muito fácil imaginar Demi... não como estivera no jardim, mas muito mais intimamente, ali com ele, agora, vestida somente de luar, prateando seus seios e criando sombras entre eles, transformando seus mamilos escuros...
Ela devia ter sabor do ar noturno e pele quente em todo o corpo. Demi tremeria quando ele a beijasse e a abraçasse. E ele faria...
Não faria nada, apenas devia lembrar-se de qual era seu papel era na vida dela.
— Eu acho que esta noite deveríamos nos concentrar nos pequenos flertes entre um homem e uma mulher.
Eles tinham terminado o jantar. Ollie estava dormindo no quarto, e os nervos de Demi estavam tão no limite que temeu que Nick notasse. Já fazia cinco dias desde que ele a beijara. E não houvera um único dia que ela não recordasse aquele beijo repetidas vezes.
— Os pequenos flertes? — repetiu Demi. Não devia sentir-se desapontada. Não podia querer que ele a beijasse novamente.
— Sim — confirmou Nicholas. — Tal como o modo como um homem pode prender o olhar de uma mulher por algum tempo.
Ele segurou-lhe o queixo e inclinou-o levemente para cima, de tal maneira que seu olhar caiu diretamente sobre o rosto de Demi, tão intenso que era quase como uma carícia física em sua pele, pensou ela.
O coração de Demi começou a disparar. Quase podia sentir o peso da concentração de Nick na sua boca. Era impossível não lhe fitar os olhos. Ele a encarava de um jeito que a fez prender a respiração. O sangue parecia pulsar em seus ouvidos, e uma mistura de fraqueza e excitação a envolveu.
Nick sabia que tinha de quebrar o feitiço que ele mesmo criara, que agora o prendera dentro de seu mistério sensual.
Só de olhar a boca de Demi o fez querer senti-la sob a sua... absorver-lhe a doçura.
Aquilo não era o que ele planejara. O objetivo era encorajá-la a explorar sua sensualidade... não ficar excitado.
Com esforço, conseguiu afastar o olhar. Embora não houvesse nada que pudesse fazer acerca das batidas frenéticas de seu coração.
Demi o observava, um pouco desapontada, mas aliviada, enquanto o via vencer sua batalha por controle.
— Vejo... o quanto algo como isso pode ser erótico — disse ela, esforçando-se por parecer calma e envolvida... afinal de contas, o que eles estavam fazendo era uma espécie de exercício.
— É espantoso, não é, que algo tão... bem, que apenas um olhar possa ter um efeito tão poderoso? —- Demi hesitou, então falou, honestamente: — Você faz isso tudo parecer tão natural e... como se fosse certo sentir... desejar... — Ela não podia arriscar-se a pôr em palavras exatamente o que ele a fizera sentir, então concluiu, rapidamente: — Não é vergonhoso e errado, como David costumava dizer.
— Nenhum homem que valha seu nome jamais faria uma mulher sentir-se envergonhada de sua sensualidade. — A voz de Nick era equilibrada com a força de seus sentimentos. A reação de Demi o recordara do papel que tinha escolhido interpretar.
Ele afastou as mãos do rosto de Demi. Talvez, no futuro, devesse dar pelo menos algumas das lições em público, onde certamente não estaria em tanto perigo devido às suas próprias reações.
— Traga traje de banho — Nick tinha dito no dia anterior, quando perguntara se Demi ainda queria ver um pouco mais da ilha. Mas não lhe ocorrera que ele levaria Ollie e ela para algum lugar tão especial como o hotel onde tinham almoçado, depois de dirigir durante certo tempo, enquanto fazia comentários sobre o local e sua arquitetura antiga.
Ela deveria estar se acostumando às intimidades que acompanhavam a presença de Nick. Todas aquelas pequenas gentilezas, quando ele lhe puxava uma cadeira, ou a ajudava de algum modo... os sorrisos que lhe dirigia e os elogios que lhe prestava, tudo era destinado, Demi sabia, para que ela se tornasse confiante como mulher.
Adorava aquilo tudo, e ficava à vontade na presença de Nick... Porém, ao mesmo tempo, estava confusa pela maneira como se sentia. Confusa por querer que ele a beijasse novamente e pela sensação de perda que a envolvia quando ele não a beijava.
Hoje, todavia, eles estavam tendo um dia com Ollie.
O hotel para o qual Nick os levara era perto da cidade de Taormina, famosa por seus edifícios históricos, incluindo ruínas de um teatro grego, e por sua proximidade do Monte Etna. Antes do almoço, eles haviam andado pela rua principal, Nick insistindo em empurrar o carrinho de Ollie, enquanto apontava vários pontos turísticos, incluindo o glamouroso Café Wunderbar, onde Elizabeth Taylor e Richard Burton haviam tomado coquetéis.
Nick até mesmo contou, aproximando-se para sussurrar em seu ouvido, que D. H. Lawrence passava férias ali com a esposa. Ele tinha baseado o personagem Mellors, o caseiro em O Amante de Lady Chatterley, num barqueiro da cidade, que a esposa de Lawrence seduzira. Taormina fora famosa durante algum tempo pelo efeito que exercia sobre as inglesas que a visitavam.
— Você precisa me dizer mais tarde se há alguma verdade nesse boato.
Nick lhe sorrira ao dizer isso, um sorriso tão íntimo que a fizera esquecer a de solidão que havia sentido mais cedo, quanto eles pareciam um casal apaixonado andando pelas ruas da cidade.
Na verdade, ter toda a atenção de Nick fixada nela a fizera sentir-se tão vulnerável que Demi colocara a mão na alça do carrinho, que fora imediatamente coberta pela mão de Nick.
Era estranho o efeito que tão pequenos gestos podiam causar.
Demi quis puxar a mão, a fim de bloquear as batidas descompassadas de seu coração, mas lembrou-se que Nick estava tentando ensiná-la a experimentar todas aquelas coisas que deveria ter experimentado naturalmente na fase de transição de adolescente para adulta.
Porque ainda lhe cobria a mão com a sua, Nick tinha sido forçado a aproximar-se mais, enquanto caminhavam, o que o deixara bastante consciente de sua coxa roçando na de Demi, e da proximidade de seus corpos.
— Você parece aterrorizada — disse ele depois que atravessaram uma rua. — Esta espécie de intimidade física deve ser prazerosa. Quando um homem aproveita todas as oportunidades que pode para estar perto de uma mulher, em público, está lhe mostrando não somente o desejo físico que sente por ela, mas também sua vontade de protegê-la. Se você quer a atenção dele, então o modo de demonstrar isso seria inclinar-se um pouco contra ele. — O braço de Nick a puxara para mais perto enquanto falava. — E relaxe, moldando seu corpo ao do seu parceiro. Então, ele provavelmente fará algo como isso. — Uma grande mão havia se movido para a curva da cintura de Demi, acariciando-a discretamente.
O efeito que o toque produzira nela podia ser qualquer coisa, menos discreto. O calor da mão de Nick se espalhara por todo o seu corpo, tornando seus seios pesados e seus mamilos intumescidos e doídos. O efeito era devastador, e ela enrubesceu.
Aquilo era desejo físico? Era como se Nick tivesse destrancado um lugar dentro de Demi... cada volta da chave despertando desejos poderosos. Como o que tinha experimentado durante o almoço, no momento em que Nick lhe tocara o joelho a fim de atrair sua atenção, enquanto ela alimentava Ollie, de forma que pudesse contar-lhe algo. Demi tivera vontade de se virar num convite silencioso para que ele deslizasse a mão ao longo da extensão de sua coxa nua.
E Nick percebeu o que ela sentia. Estava certa disso, pensou Demi agora, no abrigo da barraca ao lado da piscina, no mesmo hotel onde eles haviam almoçado.
Demi tinha visto fotografias de tais lugares nas revistas que folheava em salas de espera de médicos e dentistas, mas jamais imaginara que algum dia iria usufruir de um deles.
O almoço fora servido numa mesa afastada, sob a sombra de um guarda-sol, com pratos de finíssima porcelana e talheres sofisticados, copos de cristal e toalha de linho imaculado.
No berçário para hóspedes, Demi encontrara tudo que a mãe mais exigente poderia querer... embora tivesse notado que dois outros bebês estavam acompanhados de babás uniformizadas, e não por suas mães.
Agora, tendo mudado de roupa e colocado um maio, estava deitada na sombra numa confortável espreguiçadeira, enquanto Ollie brincava feliz, sob seu atento olhar.
Nick tinha ido nadar... o que talvez fosse melhor, admitiu ela, considerando o efeito que vê-lo de sunga lhe causara.
Seu maio e a saída de banho bordada, que combinavam belamente, tinham sido escolhidos pela vendedora pessoal. Demi não tentara sequer experimentá-los, convencida que jamais usaria qualquer das roupas que a vendedora selecionara, principalmente algo tão ousado como o maio, mas agora era forçada a admitir que seria mais coerente se tivesse tentado.
Na sua elegante embalagem, o maio parecera bem discreto, contudo, quando o vestira, tinha descoberto que, enquanto o tecido de lycra a cobria respeitavelmente, também marcava cada linha e curva de seu corpo... E, certamente, deixava à mostra sua grande extensão de pernas. Tinha sido um alívio colocar a saída de banho por cima, que felizmente cobria-a do pescoço aos joelhos.
Agora, todavia, a privacidade da barraca armada ao lado da piscina e o efeito relaxante provocado pelo copo de vinho que tomara na hora do almoço a persuadiram a remover a saída de banho e aproveitar o maravilhoso calor do sol, a despeito da sombra.
Extremamente cansado depois de um dia intenso, Ollie estava começando a fechar os olhos. Sorrindo para o filho, Demi levantou-se da espreguiçadeira e pegou-o, abraçando-o e beijando antes de colocá-lo no carrinho para dormir.
Naquele momento, Nick voltou para a barraca, depois de nadar, o sol brilhando nos ombros certamente tão largos e fortes como os de qualquer nadador olímpico, e lindamente bronzeados.
Havia algo de tão viril naquele corpo seminu que Demi estava sentindo dificuldade de respirar.
Não querendo ser pega olhando para os ombros largos e braços poderosos de Nick, desviou o olhar, só para perceber o erro que cometera, quando caiu na armadilha de observar gotas de água caindo do peito dele.
Não podia respirar direito, não podia se mover, não podia pensar... mas podia, certamente, reconhecer que Nick havia desencadeado seus instintos naturais. O. peso da água havia feito com que o calção dele descesse nos quadris, e a visão dos pelos escuros estava lhe dando uma leve tonteira. Ou eram as batidas frenéticas de seu coração que provocavam aquilo? Não importava.
Tudo que importava era seu alívio quando Nick pegou a toalha e começou a secar-se.
— Eu vi você passando protetor solar em Oliver mais cedo. Espero que tenha passado um pouco em si mesma — disse ele, quando terminou de secar-se e estava esfregando os cabelos.
— Sim, passei. —Demi podia sentir a temperatura aumentar na mesma velocidade com que seu coração acelerava, só de pensar em ter Nick oferecendo-se para fazer aquela tarefa por ela.
— Ótimo. — Ele pegou o protetor solar que ela deixara sobre a espreguiçadeira e entregou-lhe, pedindo: — Pode passar nas minhas costas, por favor?
O que ela poderia dizer? Se recusasse, Nick quereria saber por que... Além do mais, aquilo era exatamente o que uma mulher de sua idade deveria estar acostumada a fazer.
Demi concordou, sua garganta de repente muito seca para falar qualquer coisa.
Sabia, afinal de contas, que não tinha experiência naquela espécie de intimidade pessoal.
Nick virou-se de costas para ela e pôs as mãos nos quadris, esperando.
As mãos de Demi tremiam tanto enquanto lutavam para tirar a tampa da loção que Nick virou-se e tomou-lhe o frasco, dizendo:
— Abra a mão. — Ele espirrou uma pequena quantidade do líquido na palma de Demi, antes de voltar-lhe as costas uma segunda vez.
Ela começou pelo pescoço, sentindo a pele quente e sedosa sob suas mãos, enquanto passava a loção vagarosamente, e com tanto cuidado como se fosse a pele de bebê de Ollie que ela estivesse acariciando.
Por baixo das pontas de seus dedos os ombros largos eram tão musculosos quanto pareciam, e foi difícil resistir à inesperada tentação de traçar a forma dos ossos com a ponta do dedo. Como era incrivelmente alarmante saber que um dia seu filho, seu bebê, seria como Nick... um homem que as mulheres admirariam, desejariam e amariam, como amavam Nick.
Seu corpo enrijeceu-se. Quantas mulheres existiriam?
A quantas ele havia retribuído o amor? Por que essa dor aguda no seu coração?
A voz máscula de Nick interrompeu seus pensamentos.
— Algo errado?
— Acabou a loção — disse ela.
Ele colocou um pouco mais na mão estendida de Demi.
— Não sou Oliver, você sabe — ele murmurou. — Numa situação real entre homem e mulher não haveria nada de errado em acariciar-me como um amante em potencial enquanto você está fazendo isso.
Demi ficou ainda mais tensa.
— Não estou acostumada a coisas como essa.
Doía saber que ele achava seu toque muito frio para ser excitante.
— Talvez eu devesse lhe dar uma pequena demonstração? — sugeriu Nick.
Antes que Demi pudesse dizer qualquer coisa, ele tinha colocado um pouco da loção na própria mão e a estava girando.
Ela estava com os cabelos presos no topo da cabeça, e podia sentir o calor da respiração de Nick enquanto ele se inclinava. Iria beijá-la? Demi sentiu um embrulho no estômago de ansiedade que logo se transformou em decepção, quando ele não a beijou. Uma nova excitação sensual percorreu-lhe o corpo no momento em que Nick deslizou as alças de seu maio para baixo. Freneticamente, ela puxou a frente do maio para proteger os seios, enquanto ele começava a traçar círculos na pele sensível de suas costas.
Como uma atividade tão simples quanto passar protetor solar podia ser tão insuportavelmente erótica? Demi sentiu como se tivesse entrado num mundo novo de sensações e descobertas. O que Nick estava fazendo era dar-lhe uma medalha de mérito pela arte de massagem sensual.
Antes que ele tivesse alcançado a base de sua coluna, o corpo dela estava suplicando que ele lhe arrancasse o maio e a tomasse nos braços. Certamente, aquele desejo, vindo com tanta rapidez e intensidade, não era comum. Talvez David estivesse certo, afinal de contas, quando a advertira, anos atrás, que havia algo em Demi que significava que ela precisava proteger-se de sua própria intensa natureza sexual.
Como se, de algum modo, seus pensamentos e medos tivessem se comunicado com Nick, ele virou-a para encará-la, as mãos firmes e frias nos seus braços, segurando-a e fazendo-a sentir-se protegida.
— Você está excitada, e isso é exatamente o que eu pretendia que acontecesse — disse ele calmamente. — É uma reação natural de seu corpo e de seus sentidos para meu estímulo. Não há motivo para sentir-se envergonhada ou preocupada. Na verdade, deveria sentir orgulho de sua habilidade natural de ser feminina e sensual. Independentemente do que seu meio-irmão possa ter lhe dito, responder sensualmente a um homem que excitou seu desejo não faz de você uma pessoa má ou promíscua, ou qualquer das outras coisas que desconfio que ele tenha mencionado para envenená-la contra si mesma.
— Obrigada por dizer isso. — Demi podia sentir lágrimas ameaçando brotar. — Eu estava justamente me questionando se era normal ter o desejo despertado com tanta rapidez.
— É inteiramente normal. E se isso a faz se sentir mais feliz, tenho de confessar que eu também fiquei excitado.
Demi o fitou, insegura, antes de aventurar-se a perguntar:
— Isso é bom ou ruim?
— É tanto bom quanto ruim — respondeu ele, de maneira enigmática.
Ela não podia perguntar o que aquela resposta significava.
— Agora — anunciou Nick, entregando-lhe o protetor —, é sua vez de praticar em mim o que lhe mostrei.
— Está dizendo que quer que eu o faça sentir da maneira que acabou de me fazer sentir? — As palavras foram ditas antes que Demi pudesse conter-se, fazendo-a sentir-se boba, mas Nick pareceu não notar, simplesmente concordando com a cabeça.
— Eu, certamente, quero que você experimente. Prometo que quando você conhecer um homem com o qual quer ter sexo, não vai querer apenas excitá-lo com seu toque, mas tocá-lo pelo prazer que isso lhe dará. E você se sentirá muito mais segura fazendo isso se souber o que está fazendo.
Demi sabia que ele estava certo, e tentou não se alarmar, e sim pensar que o que fazia era um exercício. Nick tinha começado atrás de seu pescoço, enviando pequenas ondas de prazer para aquele local, que logo tinham se espalhado para o resto de seu corpo, enquanto ele continuava o trabalho. Ela devia tentar repetir os movimentos dele.
Sentiu-se estranha, a princípio, indecisa de como tocá-lo ou onde, simplesmente tentando copiar os movimentos que Nick fizera. Mas logo seu próprio prazer a dominou, obliterando totalmente sua auto-consciência.
Quando, ao deslizar as pontas dos dedos ao longo da coluna de Nick, ouviu ele arfar, sentiu uma onda de triunfo, e então moveu os dedos em direção aos quadris estreitos, adorando o toque da pele macia e dos músculos poderosos em suas mãos.
Na verdade, tal era seu prazer no que estava fazendo que num ponto inclinou-se para a frente e pressionou seus lábios contra a pele dele, hesitante, no começo, e depois com mais segurança, quando ouviu o som que escapou dos lábios de Nick... mais um leve gemido do que uma mera respiração, a tensão sexual dele aumentando a contração no seu próprio baixo-ventre. Se ele estivesse usando uma sunga ou mesmo apenas uma toalha, ela teria sido capaz de mover as mãos mais para baixo, para tocar as poderosas coxas peludas.
A parte de Demi que continha o mistério e o mecanismo do orgasmo feminino estremeceu e vibrou, no mesmo instante que Nick virou-se e a pegou, levantando-a com um movimento hábil, de sua posição ajoelhada ao lado da espreguiçadeira, para deitá-la contra seu corpo.
Como um facho de luz, o mais delicioso prazer a percorreu, numa onda quase insuportável de prazer, fazendo-a querer afastar-se e ao mesmo tempo pressionar-se mais contra ele.
Os lábios de Nick estavam junto de sua orelha quando ele murmurou:
— Muito bom. Porém, uma palavra de aviso: quando fizer isso de verdade, talvez seja melhor averiguar o quanto é forte o autocontrole de seu parceiro antes de começar. Especialmente se estiver num lugar público. Porque agora você me excitou e me deixou num estado muito impróprio para onde estamos, e tenho de premiá-la com ótimas notas e com a continuação de sua aula esta noite no meu apartamento.
As palavras dele significavam o que Demi estava pensando?
Que naquela noite Nick levaria as coisas à conclusão natural delas?
Ela quis protestar, dizer-lhe que tudo estava caminhando muito depressa e que não se sentia pronta, mas a mão dele estava sobre seu coração, sentindo suas batidas frenéticas. Como poderia negar que aquilo era o que desejava quando as batidas de seu próprio coração revelavam a verdade a Nick?
Felizmente Demi tinha uma desculpa para adiar as coisas.
— Não posso deixar Ollie — disse ela. Seu filho era sua primeira preocupação em todos os momentos e de todas as maneiras.
— Não precisa deixá-lo. Pode levá-lo com você. Tenho certeza que ele não se incomodará de dormir num berço portátil uma vez. Pedi a Maria que providenciasse um para o caso de você querer me acompanhar a Florença.
Tudo estava preparado, a decisão tomada!
Esta noite ela deitaria nua nos braços e, na cama de Nick, e ele ensinaria a seu corpo tudo que precisava saber para se libertar. Ela precisava falar alguma coisa.
Demi gaguejou.
— Você adora Florença, não é?
A pergunta era uma tentativa de se agarrar a algo concreto, uma tarefa difícil quando estava deitada seminua em cima dele, os braços fortes a envolvendo com firmeza.
— Sim.—Nick pegou-lhe a mão, olhando-a como se quisesse guardar suas palavras e emoções. — Razão pela qual meu pai estava provavelmente certo de reclamar, quando eu era criança, que eu não era um Jonas digno de sucedê-lo... que eu era mais filho de minha mãe do que dele. Infelizmente, para ele e para mim, sou seu filho mais velho. Portanto, não importa o quanto ele gostaria de pôr Joseph no meu lugar. Quando menino, eu costumava temer que... — Ele parou, mas Demi imaginou o que Nick estivera prestes a dizer.
— Você tinha medo que seu pai pudesse fazer-lhe um mal?
— Eu tinha medo por meus irmãos — ele admitiu. A mão de Nick ainda segurava a de Demi, e sem pensar ela colocou a outra mão em cima da dele, num silencioso gesto de conforto.
— Isso deve ter sido horrível para você. — Ela imaginava, pois ele tinha tão forte senso de dever e responsabilidade em relação aos outros que era natural que, como o mais velho, se sentisse na obrigação de proteger os irmãos.
— Meu pai jamais os feriria... ou a mim, é claro. Ele falava coisas devido à sua frustração, por seu amor excessivo por Joseph. Não era sem ironia, entretanto, que sentia que o filho que perdeu deveria ser seu favorito. Em minha opinião, meu pai foi o responsável pela falta de caráter de Joseph. Ele estragou Joseph desde o momento de seu nascimento... E, pior, ensinou-o e encorajou-o a copiar suas próprias atitudes em relação a nós três. Permitiu que Joseph crescesse acreditando que era invencível, imune a qualquer forma de punição. Foi ele, de muitas maneiras, quem orquestrou e causou a morte de Antônio, e acredito que ele tenha consciência disso.
— Algumas vezes, eu me preocupo que Ollie possa ter herdado alguns dos defeitos de Joseph — admitiu Demi, pondo em palavras pela primeira vez um medo que a assombrava terrivelmente.
— Oliver é ele mesmo — assegurou Nick, com firme autoridade. — Tem você para amá-lo e protegê-lo, e se você me permitir, eu gostaria de ser o protetor e a influência masculina na vida dele. Não precisa temer que meu amor por Ollie seja maculado pela sua relação com Joseph. Ele é uma criança do meu sangue, sangue dos Jonas, e isso são tudo que importa para mim. Terá meu amor pelo tempo que eu viver para dar-lhe.
Lágrimas encheram os olhos de Demi. Nunca imaginara que um homem tão másculo como Nick pudesse falar daquele jeito e ser tão compatível com suas próprias emoções.
— Meu pai esperou descobrir um neto que pudesse moldar à imagem de seu filho perdido. Mas eu não sou mais um menino, sou um homem, e não permitirei que ele destrua Oliver como fez com Joseph.
Demi moveu-se imperceptivelmente para perto dele, alarmada com o pensamento do príncipe tentando controlar seu precioso filho.
— Maria me contou que vocês não esperam que seu pai viva muito tempo.
— Os médicos nos alertaram que ele tem pouco tempo de vida, mas os novos medicamentos parecem ter-lhe dado nova energia. A despeito de toda dor que nosso pai nos causou, sei que nem eu nem meus irmãos queremos a morte dele.
— Não, é claro.
A mão de Demi ainda descansava confortavelmente na de Nick. Ele olhou para ela e então disse, suavemente:
— Eu estava certo sobre você: é uma mulher muito sedutora.
Demi desviou o olhar para as mãos dele.
— Não, isso não. E sua compaixão e sua ternura que a tomam sedutora... não somente a paixão que mantém firmemente escondida. Mas hoje à noite veremos essa paixão desabrochar.
Demi pôde sentir-se começando a tremer. E não opôs resistência quando Nick liberou-lhe a mão, então levou a que estava livre para sua nuca, a fim de incliná-la para si e beijá-la.
Foi somente o mais breve dos beijos, um simples roçar de lábios, mas o suficiente para informá-la o quão avidamente seu corpo responderia ao de Nick mais tarde.
Dedico esse capitulo a Andy McBros ....