Demi fez uma careta quando sentiu a relutância de seu corpo ao voltar a usar as roupas pesadas e desconfortáveis, que tinham sido lavadas e devolvidas por Maria, depois da liberdade de vestir roupas mais leves por dois dias inteiros.
Os únicos ocupantes do Castello eram o velho príncipe, Nick e os empregados... Portanto, seria seguro continuar usando suas roupas novas. Brincando com Ollie na parte sombreada do jardim, sentira-se tão segura que tirara até mesmo seu casaco leve.
As palavras da esposa de Frankie lhe deram a certeza de que podia confiar em Nick e, consequentemente, a deixaram confiante.
Madison prometera que a levaria para um passeio pelo Castello e pelas circunvizinhanças, para mostrar-lhe alguma coisa da ilha. Tinha dito também o quanto estava encantada porque Josh, seu sobrinho, agora filho adotivo dela e de Frankie, teria outra criança para brincar.
— Será adorável ter outra mulher para conversar, com quem tenho tanto em comum — dissera-lhe Madison.
Demi esperava que elas se tornassem amigas. Ter amigas sempre fora muito difícil para ela, mesmo na universidade, pois ainda vivia em casa e sua mãe era ansiosa demais com a possibilidade de "companhias erradas".
Foi somente depois das mortes chocantes e acidentais de sua mãe e de seu padrasto, num acidente de ônibus, enquanto estavam num safári, que Demi finalmente mudou-se da casa, ajudada por um dos catedráticos da universidade, a fim de obter um emprego na Biblioteca Britânica em Londres. Ela tivera sorte de conseguir alugar um quarto na casa que pertencia a uma viúva... Mas que, é claro, não era tão divertido como compartilhar um apartamento com outras jovens.
Foi então que David tinha ficado preocupado com ela, lembrando que a mãe de Demi lhe deixara a casa para que ele se responsabilizasse pelo bem-estar dela. Ele não foi capaz de impedi-la de se mudar para Londres, mas a fez saber que tal decisão o preocupava muito.
Tinha sido um choque para Demi voltar do trabalho para casa um dia e encontrá-lo sentado na sala de estar da senhoria, bebendo chá com ela, tendo, como lhe contou, explicado à Sra. Slater que a mãe de Demi o fizera prometer que sempre cuidaria dela.
— Demi tem uma tendência a se envolver com pessoas erradas — David comentou. — Rapazes que não são o tipo com os quais uma mãe espera ver a filha unida.
Demi ficou ruborizada, lembrando-se da humilhação e da sensação de indefesa, enquanto permanecia sentada ouvindo, incapaz de dizer qualquer coisa.
Dando de ombros, começou a pegar as roupas velhas.
Sua mala havia sido encontrada. Tinha sido colocada num quarto de despejo, sem dúvida, por causa de sua aparência rota, ela desconfiou.
Contudo, tendo recuperado todas as roupas, Demi descobriu, com muita culpa, que não tinha vontade alguma de usá-las. Elas a faziam recordar-se de David. Escolhera-as por causa dele.
Os quentes raios de sol batiam no assoalho envernizado e no tapete antigo. Quando se moveu, o sol cobriu seu braço. Madison possuía um adorável tom de pele, bronzeado. Tanto a pele quanto os olhos pareciam brilhar pela boa saúde e de felicidade.
Sua própria pele parecia pálida e doentia em comparação.
Madison era, obviamente, feliz e apaixonada, uma felicidade que era quase transparente. Confidenciara a Demi que ela e Frankie agora estavam esperando o próprio filho.
— Nosso segundo filho — disse Madison, revelando sua euforia, enquanto abraçava o sobrinho de modo amoroso.
Quanto a Demi, tudo que mais queria era que Ollie crescesse com liberdade, sabendo que era amado. Queria que ele tivesse segurança e fosse uma criança alegre.
Mudando o curso dos pensamentos, ela vestiu-se rapidamente com outro de seus trajes novos... Um belo vestido de verão, com um discreto decote, em tecido de algodão azul com detalhes em branco. O vestido era ornado com uma carreira de botões brancos na frente, até a cintura.
Demi olhou para o casaquinho que pusera sobre a cama para proteger os braços, e, então, de modo decidido, colocou-o de volta na gaveta.
Ollie já tinha sido apresentado ao avô... o qual, Demi sentira imediatamente, não estava nem um pouco interessado nela.
Ela também não se incomodara, especialmente quando ele chorou com emoção sobre o bebê, referindo-se a ele como o filho de seu próprio filho bem-amado. Demi não foi capaz de parar de olhar para Nick quando o velho príncipe falou de sua preferência por Joseph, mas, pela expressão melancólica de Nick, era impossível não imaginar o que ele estava pensando ou sentindo.
Ela acabara de chegar ao corredor, com Ollie, quando Nick saiu de um dos salões formais de recepção, dizendo:
—Ah... Bom, eu estava prestes a perguntar a Maria se sabia onde você estava. Pode me dar alguns minutos?
— Claro. — Demi sorriu. Sentia-se mais relaxada com ele agora que Maddie lhe assegurara que podia confiar em Frankie, mas não relaxada o suficiente para não tremer quando ele pegou-lhe o cotovelo a fim de levá-la ao terraço.
Era a primeira vez que Demi reagia com intensidade denunciadora a seu toque e proximidade, e podia senti-lo olhando para ela... Embora, para seu alívio, Nick não dissesse nada.
Estava formalmente vestido, num impecável terno de tecido leve e uma camisa também perfeita. Roupas que, de algum modo, enfatizavam sua masculinidade, fazendo os músculos do estômago de Demi contraírem-se em sua consciência feminina. Precisava fugir daquelas sensações estranhas. Aquilo significava apenas que sabia que Nick era um homem muito másculo e sexualmente poderoso. Tinha de reconhecer aquele fato, afinal de contas.
Quando eles se sentaram, uma das empregadas levou-lhes café, e Oliver estava distraído, tentando enrolar-se no cobertor.
— Uma vez que o Castello é agora sua casa e de Oliver — começou Nick —, precisamos discutir sobre uma acomodação mais confortável e adequada do que os dois quartos que você está ocupando no momento.
— Nossos quartos são excelentes — assegurou-lhe Demi, mas Nick meneou a cabeça.
— Não. Tenho meu próprio apartamento no Castello, meu pai tem os aposentos dele, e é importante que você também tenha algum lugar que seja só seu... Onde possa fazer um lar apropriado para ambos. Além disso, algum dia irá querer entreter amigos aqui em privacidade. É muito jovem, e é natural que um dia encontre um homem...
Demi estava tão agitada que teria se levantado e fugido se não fosse pelo fato que não podia deixar Oliver.
— Não quero conhecer homem algum. Jamais...
— O que meu meio-irmão fez é imperdoável, mas você não pode deixar o comportamento dele privá-la do direito de aproveitar sua feminilidade. Se deixar, estará lhe dando uma vitória. E, além do mais, precisa pensar em Oliver. Não quero fazer preleções, mas vi os efeitos que o fato de nossa mãe tornar-se vítima do marido causaram no desenvolvimento emocional dos filhos. Pretendo proporcionar a Oliver uma boa influência masculina, mas isso não pode substituir o que ele aprenderia vivendo com duas pessoas que se amam.
Os comentários sobre os deveres dela em relação a Ollie a atingiram muito fortemente. Afinal de contas, sabia tudo sobre os estragos emocionais que podiam ser causados na infância.
Demi recostou-se, cruzando as mãos sobre o colo a fim de que ele não visse o tremor nelas. Não podia olhá-lo, pois sabia que se fizesse isso não seria capaz de falar honestamente o que se sentia compelida a dizer.
— Eu... Não é somente pelo que Joseph fez a mim que não quero conhecer ninguém.
Nick examinou a cabeça curvada de Demi. Não havia absolutamente nenhum engano na intensidade de sua reação.
De repente, conscientizou-se que tinha ido em direção a um campo minado e precisava caminhar com extremo cuidado.
Mentalmente, reviu tudo que sabia sobre ela, então, disse, da maneira mais casual possível:
— Parece-me que alguém provocou esse desgosto por homens. Talvez você não tenha gostado quando sua mãe se casou novamente... O que não é uma reação incomum. Você tinha 12 anos na ocasião, como me recordo. Uma idade difícil para todos nós. Se seu padrasto não foi bondoso e compreensível...
— Não. — Demi sacudiu a cabeça ferozmente. — Não. Não foi essa a causa. De fato, tanto meu padrasto como David eram... Eram ambos bondosos. David especialmente.
David. David, o meio-irmão de Demi. O homem que Nick não gostara quando conhecera, e que insistira tanto que Nick o informasse se conseguisse localizar Demi. Instintivamente, com plena certeza, Nick soube quem a prejudicara.
— É por causa de seu meio-irmão, não é?
— Não! — Agora Nick podia perceber o medo na voz de Demi, assim como a agitação exagerada, enquanto reforçava a negação veementemente: — Não! — Aquilo fez com que sua xícara de café caísse, ensopando a saia de seu vestido.
Nick reagiu imediatamente, perguntando:
— Você está bem? O café a queimou?
Demi podia ver Nick indo na sua direção. Mais um minuto e ele a estaria tocando, e ela não podia suportar aquilo, agora.
— Não. — Ela pronunciou a palavra como uma criança assustada.
— Está bem, Demi— murmurou Nick, calmamente. — Não a tocarei ou chegarei perto de você, prometo. Mas preciso saber se você se queimou.
— Não. Estou bem.
— Ótimo. Agora, podemos sentar e conversar?
Falar sobre o que ela acabara de dizer... O que acabara de admitir pensou ela. Demi estava começando a sentir-se levemente enjoada e com uma forte dor de cabeça.
Ela tentou, mas não pôde evitar olhar ansiosamente sobre o ombro, na direção das portas que davam para o terraço.
Outra vez Nick percebeu que podia interpretar os pensamentos de Demi tão claramente como se tivessem sido revelados.
— David não pode ferir você aqui, Demi. Ele não mais a ferirá. Porque eu não deixarei.
A boca de Demi tremeu quando ela sentou e disse, numa voz mecânica:
— Ele lhe dirá que sou mentirosa e que tudo que quer é me proteger. Dirá que fiz amizade com pessoas erradas.
O passado estava ameaçando a voltar à mente de Demi. Heroicamente, ela afastou os pensamentos. Não era mais criança ou adolescente. Era uma adulta, agora.
Nick a estava observando, esperando uma explicação mais detalhada.
Não fazia sentido fingir para ele que não tinha nada a explicar. Não agora, depois que já se traíra.
— Sei o que você está pensando. Mas não é dessa maneira. Nunca houve nada sexual no modo como David falava comigo ou se comportava em relação a mim. É apenas que ele era... Bem, chamava aquilo de ser protetor, mas para mim era como se eu estivesse sendo sufocada. Na opinião de minha mãe, David nunca fazia nada errado, e ela não conseguia compreender. Achava que eu estava sendo difícil e irracional em relação a ele. Eu tinha acabado de começar o ensino médio e fazer amigas, mas David insistia em encontrar-me na escola. Eu tinha uma amiga íntima, mas ele não gostava dela. Houve quase um acidente. Ela estava de bicicleta e ele dando ré no carro. Tentei contar a minha mãe como eu me sentia, mas ela gostava de David. Dizia que eu estava sendo difícil.
Alguma coisa no silêncio atento de Nick a fez encará-lo. O ódio intenso que ela podia ver nos olhos dele a intrigou.
— Você pensa o mesmo que minha mãe. Posso ver isso em sua expressão — disse ela.
— Minha expressão, como você diz, é para sua mãe. Seu meio-irmão pode não tê-la tocado sexualmente, mas seu comportamento em relação a você era abusivo.
Nick acreditava nela. Ele entendia. Estava do seu lado.
Uma onda enorme de alívio e gratidão a envolveu. Você pode confiar em Nick, Maddie tinha dito, e agora Demi sabia ser verdade. Podia confiar nele. Pela primeira vez na vida havia alguém preparado para ouvi-la e acreditar nela.
— Não deve ter sido fácil para minha mãe. Ela era grata a David por aceitar-nos na vida do pai dele, suponho. Ele, frequentemente, costumava dizer que seu pai nunca teria se casado com minha mãe se ela não o quisesse também. Minha mãe era a espécie de mulher que precisa de alguém em quem se apoiar. Ficou muito zangada com meu pai por morrer e, algumas vezes, sentia que ela desejava que eu não existisse... Que seria muito mais fácil casar novamente se não tivesse uma filha.
Bem no íntimo, Nick estava consciente da mais extraordinária sensação de adequação entre eles. Não gostava de falar sobre sua própria infância e raramente fazia isso, mas agora, com Demi, inexplicavelmente, isso parecia natural. Porque queria ajudá-la... Não porque precisasse compartilhar sua própria dor.
— É difícil para uma criança entender o fato de que a pessoa que deveria amá-la mais do que todos não a ama. Na vida adulta, isso dificulta que ela reconheça e aceite o amor.
— Meus dois irmãos tiveram sorte quanto a isso, encontrando mulheres que estão preparadas para ajudá-los a reconhecer o que é o amor.
— Acho que ambos também tiveram sorte em ter você para amá-los e protegê-los.
Era uma nova experiência para Demi ser capaz de falar honestamente sobre o que pensava e sentia... Uma liberdade depois de anos de cautela com as palavras.
— Seu meio-irmão a tratava muito mal — foi tudo que ele pôde dizer.
— Provavelmente, não era culpa apenas de David — Demi sentiu-se impelida a dizer. — Eu, provavelmente, era difícil. Algumas vezes, os adolescentes são. Mas... Quando ele começava a me criticar, dizendo o que eu deveria ou não fazer, avisando-me sobre as consequências de meu comportamento, comecei a sentir medo.
O que era exatamente o que David queria? Nick se questionou.
Quanto mais ele sabia sobre o meio-irmão de Demi, mais o desprezava... e mais impelido se sentia para libertar Demi da prisão na qual David a colocara.
— Era a maneira como ele manipulava a verdade para fazer parecer como se eu fosse à culpada e para amedrontar-me. Algumas vezes, até imaginei se poderia ter feito às coisas das quais David me acusava.
— Ele estava tentando destruir seu direito de fazer suas próprias escolhas morais e julgamentos.
Com todas aquelas palavras, Nick estava lhe tirando o terrível peso que vinha carregando, pensou Demi.
— David disse à minha mãe que eu havia arranjado péssimas companhias na escola... Somente porque me via dando risadinhas com outras garotas e alguns rapazes quando ele ia me buscar. Era tudo completamente inocente, mas ele ficava irado com aquilo. Falava coisas que aos 13 anos eu não era capaz de compreender... Coisas sobre rapazes e sexo, sugerindo que eu estava induzindo rapazes e que eu queria...
Ela não pôde continuar, mas parecia que não precisava, porque Nick entendia. Sabia disso, porque ele estava falando claramente:
— Ele disse coisas que a faziam sentir-se envergonhada da curiosidade sexual comum na adolescência e sobre si mesma.
— Sim — concordou ela. — Ele deve ter dito algo para minha mãe, também, porque ela recriminou-me sobre comportamento provocante e o perigo de usar certas roupas. Levou-me às compras e comprou-me saias longas. Eu as detestava, não queria usar... Elas me faziam parecer diferente das outras garotas. Mas David alegava que se eu não as usasse era porque queria que os rapazes olhassem para mim. Ele costumava ir ao meu quarto à noite, depois que eu me recolhia. Sentava-se na beira da cama para me questionar. Continuava perguntando repetidas vezes com quem eu falava na escola e se era com alguns rapazes, se eu queria falar com eles. Eu mentia e dizia que não, somente para fazê-lo ir embora, mas um dia David ficou olhando-me e soube que eu estava mentindo.
Demi tremeu.
— Foi horrível. Ele era frio e estava zangado. Pegou um aparelhinho de chá de porcelana que eu colecionava e jogou-o no chão, peça por peça, quebrando todas elas. Falou que não queria ficar zangado comigo, mas era minha culpa, porque mentira para ele. Disse que só queria cuidar de mim, porque se importava comigo, e não queria que os rapazes pensassem que eu era vulgar. Minha mãe estava sempre dizendo quanta sorte eu tinha por ter um meio-irmão tão encantador. Ela não entendia. Ninguém entendia. Eu queria muito ir para a universidade, e quando me ofereceram um lugar, em Cambridge, fiquei sonhando. Mas minha mãe reclamou que eu não era madura o suficiente para viver longe de casa, que seria muito melhor se fizesse o mesmo que David e fosse para a universidade local, de modo que pudesse continuar morando em casa. Sei que era sugestão dele... Assim como sei que o amassado que David fez no carro que pertencia ao rapaz que me levou para o baile da escola não foi um acidente, em absoluto.
Demi não podia parar a torrente de palavras, mesmo se quisesse.
— Antes de conhecer o pai de David, minha mãe sempre falava que nossa casa, que tinha pertencido à família de meu pai, seria minha no futuro. Mas quando ela e meu padrasto faleceram, descobri que a casa tinha sido deixada para David e que ele fora designado meu tutor. Felizmente, eu tinha mais do que 18 anos na ocasião, e um dos meus professores na faculdade, acho que ele percebia como David era, porque também fora professor dele, ajudou-me a arranjar um emprego em Londres. David ficou terrivelmente preocupado. Pediu-me para voltar para casa, mas eu não voltaria. Sabia que ele tinha de ficar em Dorset por causa de seus negócios lá. Era maravilhoso morar e trabalhar em Londres. Mas nem assim ele foi capaz de me deixar ser a pessoa que eu queria ser. Todas as vezes que eu olhava para um vestido bonito, ou uma saia curta, via o rosto de David dentro da minha cabeça, ou ouvia sua voz.
A própria voz dela vacilou, de exaustão.
Demi reconhecia que se sentia muito fraca e levemente tonta... e, também, o mais importante, um pouco chocada e incapaz de compreender totalmente o que tinha feito.
— Eu não deveria ter-lhe contado nada disso.
— Porque seu meio-irmão não gostaria?
Ela fazia ideia do que revelara sobre sua infância arruinada pelas táticas do obsessivo David e da aparente inabilidade de sua própria mãe em reconhecer o que estava acontecendo com a filha?
A própria infância de Nick e de seus irmãos haviam sido terrivelmente afetadas pela falta de amor dos pais, mas o que Demi passara era algo de caráter diferente.
Havia um gosto amargo na boca de Nick, uma raiva masculina por conta dela no seu coração e uma forte determinação em sua cabeça.
Demi era, agora, membro de sua família. Para Nick, aquilo significava que, além de recompensá-la pelo mal que Joseph lhe fizera, era também seu dever devolver o que lhe fora tomado.
— Depois do que você acabou de me contar, posso entender por que ignorou e tentou evitar Joseph.
— Eu sabia que ele estava se divertindo comigo, fingindo estar interessado em mim. Não gostei dele. Felizmente, não posso me lembrar de nada que aconteceu — disse Demi com sinceridade. — Quando Susie, a esposa do autor com quem eu trabalhava, encontrou-me, eu ainda estava um pouco drogada.
— Você nunca relatou o ocorrido à polícia?
— Não. Tive medo de que não acreditassem em mim.
Nick perguntou-se se era porque David lhe dissera tantas vezes que ela era culpada de promiscuidade simplesmente por ser mulher que Demi agora era incapaz de confiar nos homens e acreditar que a protegeriam.
— Foi um choque horrível quando Susie perguntou-me se eu poderia estar grávida. Aquilo nunca me ocorreu. Fui tola, eu sei, mas falei que Joseph teria... Bem, que ele não iria querer correr algum risco de ter um filho.
— Como prova do que ele tinha feito você quer dizer? Era típico de Joseph não pensar nas consequências.
— Originalmente, quando... Quando aquilo aconteceu, Susie viu no meu passaporte que eu tinha dado o nome de David como meu parente próximo. Implorei que não ela contasse nada a ninguém, mas... Ela teve boa intenção, eu sei. E quando David chegou a Londres, estava muito preocupado com isso, naturalmente.
— Ele tramou com Susie, como fizera com sua mãe?
Demi assentiu.
— Ele queria que eu abortasse. Disse que seria a melhor atitude a tomar. Mas eu não podia fazer isso. Então, ele começou a falar que eu queria que aquilo tivesse acontecido que eu, provavelmente, tinha encorajado Joseph, caso contrário, eu me livraria do bebê. Acho que Susie e Tom concordaram com ele, embora nunca tenham confessado isso. Assim que Ollie nasceu, David tentou fazer com que Joseph reconhecesse sua responsabilidade, mesmo eu suplicando para que ele não fizesse isso. Quando Joseph negou-se, David começou a pressionar-me para colocar Ollie para adoção. Conseguiu até mesmo persuadir Susie a ficar do lado dele. — Demi tremeu.
— Eu estava com tanto medo que de algum modo ele me separasse do meu filho! Foi por isso que eu...
— Que você concordou em vir para a L.A? — completou Nick.
— Sim. Achei que Ollie estaria seguro aqui.
— Pensou certo.
— Deve entender agora por que não quero me envolver com ninguém.
Por um segundo ela pensou que ele não iria responder, mas, então, depois de longo silêncio, que a fez pensar ter dito a coisa errada, Nick perguntou, calmamente:
—Nunca houve ninguém especial para você sexualmente, houve? Alguém que quando você olha pela segunda vez reconhece como a pessoa com quem compartilharia intimidade sexual?
Por alguma razão, Demi descobriu que queria desesperadamente chorar. Tinha passado tantos anos distante do que significava ser uma mulher que crescera para aceitar isso como seu destino. Estava sozinha e com o fardo secreto de seu desalento. Agora, com poucas palavras simples, Nick havia mostrado uma luz naquele lugar escuro e secreto em seu interior, iluminando-o brilhantemente. Ela sentiu-se envergonhada, reconheceu. Envergonhada e com medo.
Não podia responder à pergunta dele.
A verdade doía muito, fazia-a sentir-se vulnerável, todavia, para sua própria surpresa, percebeu que estava lutando contra sua vergonha e seu medo, obrigando-se a dar uma resposta a Nick.
— Não. Nunca. Eu era jovem demais quando David começou a me fazer sentir desconfortável sobre...
Ela precisava parar. Já falara coisas demais, traíra-se muito. Era ridículo e humilhante que uma mulher de 24 anos, mãe, nunca tivesse conhecido os prazeres do sexo.
— Sobre sentir atração pelo sexo oposto? Sobre gostar de rapazes e explorar as sensações, pensando em gostar de rapazes excitados?
Demi quis cobrir as orelhas com as mãos, como se ainda tivesse 12 anos.
— Não há nada para se envergonhar. É assim que começa, para todos nós. Com curiosidade e consciência, com excitação e um medo de fazer papel de tolo.
— Não posso imaginá-lo sentindo-se dessa maneira alguma vez. Preocupando-se em fazer papel de tolo — explicou Demi. Não queria pensar na primeira parte da descrição dele. Aquilo provocava um tumulto perigoso em seu corpo, e já tinha muitos problemas para enfrentar.
— Posso assegurar-lhe que senti. Todo mundo sente. É uma parte natural e normal do crescimento, mas isso lhe foi negado.
— Eu não podia suportar a ideia de alguém pensando em mim do modo como David me dizia... Que rapazes, homens, pensavam em mulheres que lhes permitiam intimidades sexuais. Nem pensar em ser atraída por alguém — admitiu ela.
Era desconcertante perceber quão chocada e envergonhada ela se sentia por ter lhe confidenciado aquelas coisas em tão pouco tempo... coisas que agora falava tão abertamente e com tanta facilidade.
— Então, você reprimiu sua inclinação natural e abriu mão de seu direito à própria sexualidade?
— Eu só queria me sentir segura.
— Dos rapazes ou do seu meio-irmão?
Os olhos de Demi se arregalaram em silencioso reconhecimento do quão bem Nick a entendia.
— Acho que eu podia ter tentado ser mais normal quando vim para Londres, mas todas as outras mulheres que vi eram tão... eram tudo que eu sabia que não era. Temia que os homens que saíssem comigo, constatando minha ingenuidade, rissem de mim. Pareceu-me melhor não arriscar. E, agora, é claro, é tarde demais. Eu não poderia começar um relacionamento, mesmo que quisesse. Que homem hoje em dia quer uma mulher como eu? Mãe solteira que não sabe o primordial de como dar e receber prazer sexual. Como eu poderia explicar tudo para eles?
— Por que não? Você me contou.
Ela ergueu a cabeça e o fitou.
— Isso é diferente. Você não é, nós não somos, sei que posso confiar em você porque...
Por quê? Pelo que ele era ou por quem era? Demi não estava certa. Sabia que Nick era diferente, um outro tipo de homem, que tinha, para os tempos atuais, qualidades muito raras.
— Deve ter sido muito difícil para você viver como tem vivido... uma vida não natural para uma mulher jovem e atraente.
Nick a achava atraente? Ou estava dizendo aquilo somente por piedade?
— Não precisa ter pena de mim — defendeu-se Demi. — Sou perfeitamente feliz como sou.
—Não. Você não é — Nick comentou. —Apenas pensa que é feliz, mas tem tanto medo de ser punida que se distanciou completamente de sua sexualidade. Isso não é modo de viver... Em constante negação e medo de uma parte essencial de si mesma.
— É a maneira como preciso viver. Não tenho outra opção.
— Mas você gosta dessa escolha? Se fosse possível, desejaria resgatar sua sexualidade? Ter a liberdade e o direito de encontrar alguém com quem pudesse compartilhar a vida?
— Eu... — Ela, desesperadamente, queria ater-se ao orgulho e negar aquele desejo, mas as palavras de Nick haviam lhe despertado uma dor que a fazia se sentir inclinada a contar-lhe a verdade. — Sim — admitiu.
Nick desviou o olhar do rosto de Demi. Tomara uma decisão que estivera ali durante o tempo todo que a ouvia.
— Há uma coisa que preciso lhe dizer: seu direito à sua sexualidade lhe foi roubado por um membro do meu sexo e o estrago que ele fez foi completado por um membro de minha família. Como um Jonas, e o mais velho dos irmãos, tenho o dever de recompensá-la e restaurar o que lhe foi tomado. Esta é a lei da família Jonas, o código pelo qual vivemos.
— Isso é tolice — disse Demi, inquieta.
— É meu dever — repetiu ele. — Um dever que tenho não somente para com você, mas para com Oliver, que tem o meu sangue. Ele tem o direito de crescer com uma mãe que se regozija da sua sexualidade, em vez de temê-la, e que pode lhe dar um bom exemplo de tudo que uma mulher que se valoriza deve ser. Como ele poderá escolher uma parceira que valha a pena se não souber em quem se espelhar? É seu dever como mãe provir um modelo para essa mulher.
— Tudo que você disse é muito certo — murmurou Demi, indefesa. — Mas não posso me tornar a espécie de mulher que você descreve.
— Sim, você pode. Comigo como seu guia e professor.
AMEEEEEEEEEEEEEEEEEI *--* Desculpa não ter comentado antes, é que a burra aqui esqueceu que não te seguia. ¬¬' desculpa mesmo. Mas tá ótimo, e essa demora de Nemi tá me matando! Snif' Você é muito má. kkkkkkk² POSTA LOOOOGO! To amando, e to anciosa! por favor... vai... posta loguinho *o* pela Andyzinha aqui. kkkk Tá ótimo! mas eu quero mais Nemi *---------* McKiss *-*
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