— É tão bom ter você e Ollie morando aqui conosco Demi. Algumas vezes, preciso me beliscar para ver se não estou sonhando. Sinto que tenho muita sorte.
Demi concordou e tentou fingir que estava prestando a devida atenção ao que Maddie falava, enquanto ambas estavam sentadas, tomando chá e olhando seus bebês brincando juntos, muito felizes, no pátio sombreado da bela mansão de Frankie.
A realidade, entretanto, era que Demi estava achando quase impossível afastar seus pensamentos, e a culpa que sentia pelo prazer de reviver repetidas vezes os eventos de duas noites atrás, quando acordara na escuridão e constatara que estava na cama com Nick.
Ainda flutuando com a doce satisfação física do orgasmo que tivera e dos sentimentos que a haviam finalmente libertado de sua prisão, e comemorado sua sexualidade, sentia-se segura e feliz, de um modo antes desconhecido.
Eram aqueles sentimentos que a tinham feito se aninhar contra Nick, saboreando sua própria sensualidade, mas também sendo provocativa o suficiente para decidir que a onda de prazer que a percorria ao sentir a pele de Nick contra a sua era um prazer que precisava de mais exploração.
Sem pensar, Demi havia erguido uma das mãos para o peito dele, sentido as batidas do coração de Nick contra a sua palma... e descobrindo que queria muito mais do que aquilo.
Mergulhada num estado de excitação e alegria, nem mesmo registrara o fato de que Nick estava dormindo. Seu novo sentido de liberdade havia feito desaparecer toda racionalidade. Estivera perdida, total e inteiramente, e não fora capaz de impedir sua feminilidade recém-descoberta seguir seu curso.
Demi tinha deslizado as pontas dos dedos ao longo do braço nu de Nick, então lhe beijara o peito, perto do coração, o pescoço... passando infindáveis minutos, ou assim parecia, explorando a cavidade na base da garganta com a ponta da língua, numa ação de gratidão por tudo que ele lhe proporcionara. E, então, quando a langorosa felicidade que sentia começou a transformar-se num desejo latente, ela continuou acariciando-o com a língua. Todos os movimentos de seus lábios provocavam um movimento similar de seus seios contra o peito largo, o roçar de seus mamilos contra os pelos sedosos reacendendo um desejo intenso que experimentara mais cedo naquela noite.
Em que momento suas mãos tinham escorregado para os quadris de Nick, então mais para baixo, Demi não recordara. Tudo que sabia era que até agora, dois dias depois, apenas relembrando o momento quando Nick havia se movido, virado a cabeça e murmurado na sua orelha: "Ou você para agora mesmo, ou aceita as consequências do que está fazendo ", trazia de volta um eco intenso do que sentira, acompanhado de um desejo muito familiar no seu baixo-ventre.
É claro que ela deveria ter parado. Encontrara sua sensualidade, afinal de contas, portanto, não havia necessidade real para que Nick continuasse com seu programa de ensino. Mas Demi não tinha parado, e, sim, deliberadamente movido sua mão para mais baixo, passando os dedos através do calor levemente úmido dos pelos imediatamente acima da firme ereção de Nick.
Como uma mulher que não tivera nenhum conhecimento da intimidade do corpo de um homem era capaz de reconhecer um desejo feminino tão potente, para acariciar e controlar tal masculinidade, Demi não sabia. Tudo que sabia era que fora capaz.
Nick tinha sofrido suas explorações por diversos minutos, durante os quais o coração de Demi disparara para segurar o ritmo do dele, e o ar entre os dois se tornou repleto de suas respirações ofegantes. O sexo de Nick, já rijo sob seus dedos, crescera ainda mais. E, então, ele havia gemido alto... Um som gutural e visceral que transformara a excitação de Demi numa pulsação urgente. Em seguida, ele a puxara para cima de seu corpo, as mãos fortes pressionando-lhe os quadris contra a rigidez viril, enquanto entrelaçava seus cabelos com as mãos e a beijava com loucura, deixando-a quase sem respiração.
Nick afastou-se do beijo somente para lhe dizer, com voz rouca e torturada:
— Eu quero você. Eu a quero aqui, agora.
— Eu também quero você — ela sussurrou em resposta.
Foi Demi quem lhe pegou as mãos com urgência, tremendo de deleite enquanto ele a rolava para baixo de seu corpo másculo. O luar prateado sobre a pele de Nick revelava o desejo ardente nos olhos dele, a intensidade do mesmo mexendo com todas as terminações nervosas dela.
Ela tivera um filho, regozijando-se com o nascimento do bebê, despreocupada do efeito físico que a experiência poderia ter sobre seu corpo. Mas, de repente, tornou-se consciente do quanto aquele processo poderia tê-la feito mudar. E não somente aquele processo. Podia não se lembrar do que tinha acontecido com Joseph, mas acontecera.
Em algum lugar, no seu íntimo mais secreto, Demi sentiu uma onda de algo primitivo que não quisera admitir: uma mistura de ânsia e dor, e reconhecimento de que, se tivesse tido escolha, Nick seria seu primeiro homem, seu primeiro amante.
Ele beijou o rosto dela, depois o pescoço, movendo-se sensualmente contra o corpo de Demi, tocando-lhe o sexo com os dedos, como tinha feito antes.
Dessa vez, a sensação que a invadiu era mais forte e mais profunda, fazendo-a arcar em direção a ele.
Nick beijou seus seios, e, então, perguntou, suavemente:
— Você tem certeza que é isso que quer?
Demi riu um pouco antes de responder com sinceridade:
— Sim... e mil vezes mais do que imaginei que pudesse querer.
À luz do luar, ela viu o peito másculo expandir-se e depois contrair-se.
— Tenho de tomar precauções — ele murmurou. — Não quero ser um segundo.
Ela sabia que o que ele dizia fazia sentido, mas de repente, não podia suportar o pensamento de Nick deixá-la.
Envolvendo os braços fortemente em volta dele, pressionou o corpo contra a virilidade potente e murmurou:
— Não.
Nick teria ficado se ela não tivesse se esfregado contra ele tão provocativamente, convulsionando-se num prazer delirante quando sentira a rigidez contra seu sexo? Demi não sabia. O que sabia era que o prazer de sua própria sensualidade tinha sido tão intenso que a fizera repetir o movimento... não uma vez, mas diversas vezes.
Ele perdeu o controle então, e ergueu-a de tal modo que pudesse penetrá-la devagar e deliberadamente.
— Se você quiser que eu pare... — começou Nick, mas Demi meneou a cabeça, mostrando-lhe o quanto queria entrelaçar as pernas ao seu redor e recebê-lo dentro de seu corpo.
Depois disso, o mundo tornou-se um rodopio de prazeres diferentes, cada um mais intenso do que o anterior. Um caleidoscópio de desejo compartilhado, enquanto Nick a levava para um pico cada vez mais alto.
Tê-lo em seu interior a fez se sentir tão certa... como nada que poderia ter imaginado. Ele a preencheu e a completou, enquanto o prazer continuava crescendo, deixando-a tão perdida nos encantos da paixão que seu orgasmo quase a fez desfalecer, subjugando-a tão rapidamente que Demi queria adiar o prazer, de tal modo que pudesse aproveitar a sensação por mais tempo.
Os ecos daquele momento ainda a faziam tremer inteira ao lembrar como Nick havia ficado tenso antes da última investida, a alegria agonizante de seu triunfo reverberando através da noite prateada.
Ela gritara um pouco depois, e se não se sentisse envergonhada teria dito a Nick, emocionada:
— Foi maravilhoso. Eu somente gostaria que você tivesse sido o primeiro.
O primeiro, o último e o único.
O choro de protesto de Ollie quando ele e Josh queriam o mesmo brinquedo, fez Demi abruptamente voltar à realidade.
— Quando Nick deve voltar de Florença? — Maddie perguntou.
— Não antes de amanhã à noite, infelizmente.
Ela viu o olhar que Maddie lhe deu e tentou não corar. Suas palavras haviam traído muito claramente que estava sentindo a falta de Nick e querendo seu regresso.
Ela somente soubera que ele tinha deixado o Castello e ido para Florença quando Maria lhe contara. Demi retornara para seu próprio quarto, é claro. Afinal de contas, ela e Nick não eram um casal, no sentido comum. Mas sua cama parecia vazia e fria sem a presença dele. O Castello inteiro parecia vazio e frio sem ele.
Como o resto de sua vida seria sem ele?
Demi saltou como se tivesse tocado em algo que lhe desse um choque elétrico. Que espécie de pensamento tolo era aquele? Como sua vida podia ser vazia quando tinha um filho e agora, graças a Nick, a habilidade de encontrar um parceiro adequado e assumir um compromisso com esse parceiro? Mas o único homem com quem queria um compromisso era Nick.
Não! Não devia pensar daquele jeito. Não podia, e não deveria. Ter se apaixonado por ele certamente não tinha sido o propósito do plano de Nick ao ajudá-la a despertar sua sexualidade reprimida. Ele ficaria horrorizado se descobrisse seus sentimentos, que precisavam permanecer em segredo.
— Eu me preocupo com o príncipe quando Nick não está aqui — disse ela, desculpando sua reação à Maddie. — Especialmente depois que você me alertou.
De certa forma, aquilo era verdade. Demi ficara ansiosa quando Maria lhe dissera, mais cedo naquele dia, que o criado do príncipe havia dito que seu patrão queria ver "a criança" e que ele, o criado, iria apanhar Ollie para levá-lo até o avô. A presença dela não era solicitada.
Era tolice sentir-se tão medrosa e vulnerável porque Nick não estava presente. Afinal de contas, o que o pai dele poderia fazer? Ele era um velho frágil, e Ollie era filho dela.
* * *
Nick largou as plantas que estivera estudando.
Não adiantava. Estava apenas enganando a si próprio se pensava que realmente conseguiria fazer algum trabalho. Seus pensamentos estavam num único lugar desde a noite que Demi compartilhara sua cama.
Nick tinha sempre considerado sua atitude... não, corrigiu-se, sempre se orgulhara de sua atitude em relação aos outros, mas agora reconhecia a culpa por sua arrogância. Em sua arrogância e inabilidade de admitir sua própria vulnerabilidade humana não vira o perigo do que planejara fazer... para si mesmo e, mais imperdoavelmente, para Demi.
Não tinha sentido dizer a si mesmo que seus motivos eram altruísticos, baseados numa crença genuína de que possuía o dever de ajudá-la.
Deveria ter sabido o risco de sua própria fraqueza. Ele era humano, afinal de contas. Muito humano, como a noite que passara na cama com Demi havia provado.
Ele acreditara que estava fazendo a coisa certa e que não havia risco para nenhum deles. Nenhum risco? Acreditara tanto nisso que tinha violado uma regra importante e não usado um preservativo?
Havia desafiado o destino, sem pensar nas consequências, e agora estava pagando o preço. Na verdade, era agora forçado a admitir, Nick a desejara no minuto que a tinha segurado. Algum tipo de comunicação mágica ocorrera quando eles tinham se abraçado... alguma coisa que tocara diretamente seu coração e sua alma.
Obstinadamente, ignorara todos os sinais de prevenção ao longo do caminho e encorajara Demi a acreditar que ele seria seu salvador.
Seu salvador! Não era melhor do que Joseph no que fizera, mesmo se em seus braços ela aprendera e descobrira o prazer sexual verdadeiro.
Como nos braços de Demi ele aprendera e descobrira o que era amar?
Um tremor percorreu seu corpo, fazendo-o levantar-se da escrivaninha e andar pela sala. Da janela de seu escritório em Florença, no belo pallazo do século XVIII, que herdara da família da mãe, Nick olhou para o elegante jardim.
Ele tinha abusado de Demi da mesma forma que seu meio-irmão... mesmo se Demi ainda não tivesse consciência disso; mesmo que ela tivesse adormecido nos seus braços e sussurrado seu agradecimento cheio de alegria pelo que eles haviam compartilhado.
Em algum lugar do caminho, de algum modo, durante a intimidade deles, Nick cruzara uma linha que não tinha o direito de ultrapassar.
Ele lhe devia um pedido de desculpas e uma explicação. Desculpar-se seria fácil, mas que explicação ele daria? Que tinha escondido a verdade de si mesmo, não admitindo que suas ações eram, em parte, motivadas por seu desejo por ela?
Isso deveria ser feito, e uma escolha precisava ser oferecida a Demi. Ele não fora honesto com ela nem consigo mesmo, e Demi teria o direito de tratá-lo com raiva e desprezo. Aquelas eram, certamente, as emoções que Nick sentia em relação a si mesmo. E estava realmente ciente de que sua necessidade de estar com ela era para desculpar-se e admitir seu erro? Ou isso seria apenas uma desculpa para estar ao lado de Demi e, talvez, repetir a intimidade que eles já haviam compartilhado?
O que ele fizera era, aos seus próprios olhos, uma violação grosseira de tudo que acreditava ser seu dever para com Demi.
Tinha visto seus irmãos apaixonarem-se e invejado a felicidade deles.
Agora os invejava ainda mais.
Porque estava apaixonado por Demi?
Ele não podia, não devia, não faria aquilo. Afinal de contas, prometera a ela a liberdade de fazer sua própria escolha. Jamais poderia oprimi-la com seus sentimentos. De agora em diante, seus sentimentos deveriam ser um segredo.
Nick tinha um jantar de noivado em Florença naquela noite, com um arquiteto e sua esposa.
Mas havia somente um lugar onde queria estar, e uma única pessoa com quem queria estar.
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