Eles estavam perto do Castello quando um táxi passou na estrada, deixando Demi sentir uma onda de alegria e com a esperança de que Nick retornara mais cedo do que planejara.
Mas depois que o motorista de Frankie deixou-a no Castello ela perguntou a Maria se Nick estava de volta, e a governanta meneou a cabeça, dizendo que o táxi chegara com um visitante, o segundo naquela tarde, para o príncipe.
Ela suspeitava que Nick não sabia nada daquelas duas visitas e esperava que os dois visitantes num dia não fossem demais para um homem idoso.
Assentindo com a cabeça, Demi estava mais preocupada com o perigo de seu desapontamento pelo fato de Nick não ter retornado do que curiosa com relação aos visitantes.
Agora, tendo alimentado e trocado a fralda de Ollie, estava voltando para o pátio adjacente ao terraço com ele deitado no carrinho, apreciando o calor dos raios de sol do fim da tarde.
Ela estava completamente absorta quando viu seu próprio reflexo no lago ao lado do qual parará, e pensou no quanto tinha se acostumado com suas novas roupas e como se sentia relaxada agora que elas sutilmente realçavam sua feminilidade.
Era um doce momento de prazer feminino, e Demi sorriu.
Devia agradecer a Nick por aquilo, é claro. Ele lhe dera a segurança de aceitar que somente ela tinha o direito de decidir o que vestiria, e acreditar que era perfeitamente capaz de decidir por si mesma o que era ou não apropriado. Sua pele começara a adquirir um leve bronzeado, e seus cabelos estavam soltos sobre os ombros.
Ergueu Ollie do carrinho a fim de mostrar-lhe o lago dos peixes dourados, sentando-se na beirada com ele no colo, remexendo a superfície da água para que o bebê pudesse ver os peixinhos nadando.
Era um lugar idílico para ele crescer. Teria a companhia do garotinho de Frankie, e Maddie, sem dúvida, teria mais filhos. Ollie seria cercado de amor, e, melhor de tudo, teria Nick para guiá-lo e protegê-lo.
Demi deixou seus lábios formarem o nome dele, saboreando o prazer de fazer isso, sabendo que ele não estava ali para testemunhar sua tolice.
A noite estendia-se à sua frente, como as duas noites anteriores. Sentia muita falta de Nick. Não fazia diferença o fato de conhecê-lo havia tão pouco tempo. Quanto tempo demorava para alguém apaixonar-se? Nenhum. Uma simples batida de coração era suficiente para mudar o curso da vida de uma pessoa. E Nick havia feito isso com ela.
Demi sentia que já pertencia a ele. Não deveria adicionar outro fardo àqueles que já lhe dera. Nick era extremamente motivado pelo dever e senso de responsabilidade em relação aos outros. Sem dúvida, se descobrisse que ela o amava, ficaria preocupado.
Ela viu Maria se aproximando, com certeza a fim de perguntar-lhe o que queria para o jantar.
Mas quando Maria a alcançou, disse, esbaforida:
— O príncipe deseja ver você e Oliver no apartamento dele.
— O quê? Agora?
— Sim. Agora. Ele pedira aquilo?
Antes, fora Nick quem havia levado o filho para ver o avô, que não mostrara nenhum interesse nela depois de seu encontro inicial.
— Você precisa correr — continuou Maria, parecendo ansiosa. — O príncipe não gosta de esperar.
Demi gostaria de ter oportunidade para refrescar-se, garantindo que ambos, ela e Ollie, especialmente Ollie, estivessem bem compostos antes de serem submetidos ao que desconfiava ser uma inspeção muito crítica do príncipe. Mas Maria estava deixando claro que não haveria tempo para isso.
Na verdade, a governanta pegara o carrinho, obviamente querendo apressá-los.
Não havia nada que Demi pudesse fazer senão seguir Maria até o elevador que levava aos aposentos particulares do príncipe, no primeiro andar.
O velho príncipe era persistente por tradição, Demi soubera através de Maddie, e vivia exclusivamente no estilo do século passado, servido por um séquito formidável de criados igualmente idosos.
Aquela parte do Castello parecia muito diferente dos aposentos modernos de Nick. A decoração dos dois salões vazios que Demi atravessara era barroca... os tetos rebocados, dourados como o pesado madeiramento entalhado, as paredes recobertas com seda que combinavam com as cortinas e com a mobília estofada.
Aquelas salas pareciam mais um museu do que um lar, Demi refletiu, tremendo um pouco no seu vestido de verão sem mangas.
Um lacaio uniformizado estava perfilado diante de portas duplas, e permitiu que Demi e Maria entrassem.
Ali, a decoração era ainda mais imponente do que nos dois salões anteriores. Quadros imensos em cores sombrias dominavam as paredes, enquanto o teto pintado poderia competir com a Capela Sistina do Vaticano.
As pesadas cortinas de veludo em cada lado das quatro janelas bloqueava a luz do dia, de modo que a sala era iluminada por candelabros e lustres, enquanto um fogo queimava na enorme lareira.
O ar cheirava a antiguidade e Demi não mais teve tempo de avaliar o ambiente. Foi incapaz de tirar o olhar chocado e incrédulo de um dos dois homens vestidos de roupa escura que ladeavam a figura encolhida do príncipe, enrolado em uma manta, sentado em sua cadeira de rodas ao lado da lareira.
David! O que ele estava fazendo ali?
Seu coração começou a bater violentamente, com medo, e Demi tremeu quando o olhar de desaprovação do meio-irmão pousou em seus ombros e braços nus.
Ela desejou que tivesse insistido para ir até seu quarto e pegar um casaquinho para cobrir-se... ou, melhor, para mudar o visual completamente.
Sabia, pelos lábios comprimidos de David, o que ele estava pensando.
— David! O que... o que você está fazendo aqui?
As palavras foram pronunciadas antes que ela pudesse contê-las, fazendo-a parecer uma escolar imatura, pega numa atividade proibida.
— Está tudo bem, Demi.
A voz de David sempre soava suave e confiante.
Tão bondosa e compreensiva! Não era de admirar, que sua mãe nunca tivesse entendido seu medo por ele.
— Ninguém vai ficar zangado com você. Estou aqui para me certificar disso. Sabe que sempre tive a melhor intenção no coração.
Ninguém iria ficar zangado com ela? Mas ele já estava. Demi não tinha de voltar a ser a criatura medrosa que fora antes que Nick a salvasse. Nick! Se ao menos ele estivesse ali...
— Não entendo por que você está aqui.
Ela precisava ser forte e firme, precisava comportar-se como se Nick estivesse ao seu lado, guiando-a e protegendo-a.
— Vim para levá-la para casa.
Demi sentiu uma onda de puro ódio. Mas precisava controlar aquilo.
— Esta é minha casa agora. Minha e de Ollie.
David estava sorrindo... o sorriso triunfante e maligno que Demi recordava tão bem.
Seu coração comprimiu-se de medo quando percebeu o quanto ele devia estar se sentindo seguro, para mostrar sua maldade também em público...
— Esta é a casa de Ollie agora, sim. Mas sua casa é comigo, Demi. Você sabe disso. Sempre foi e sempre será.
— Vamos acabar com isso — disse o príncipe pela primeira vez. O inglês dele era bom, mas a voz era trêmula e instável. — Onde estão os papéis? — exigiu, voltando-se para o terceiro homem, que ainda não havia falado. — Ela precisa assiná-los, e então ele pode levá-la embora. Ele precisa levá-la antes que ela fira meu neto. Traga a criança para mim.
Ferir Ollie? O que o príncipe estava dizendo? O que estava acontecendo?
Quando o terceiro homem se aproximou, Demi pegou Ollie do carrinho, segurando-o fortemente. Como se seu medo tivesse passado para ele, Ollie de repente começou a chorar.
— Veja — disse o pai de Nick ferozmente. — O irmão da moça está certo. Ela não tem condições de tomar conta do menino. Ele está com medo dela.
Ollie com medo dela? O que estava acontecendo? Confusão, horror e medo... Demi sentiu tudo isso. Instintivamente, tentou fugir, voltando-se para as portas através das quais tinha entrado. Mas estavam fechadas, com os dos lacaios diante delas.
O medo aumentou, fazendo-a perder a coragem que Nick lhe dera.
Nick! Só de pensar no nome dele parecia ficar calma.
Desesperadamente, pegou-se a isso, querendo ser forte e lembrar-se que não era mais uma criança e escrava de David, e que não havia mais necessidade de temê-lo.
Mas, e o príncipe? Ele, obviamente, queria lhe tirar Ollie, e David o encorajaria e o ajudaria a fazer isso. David nunca quisera que ela tivesse Ollie. Demi precisava ser forte.
— Está tudo bem, Demi — murmurou David na sua voz mais bondosa. — Sabemos o quanto ama Oliver. Mas o melhor lugar para ele é com o avô. E os advogados do príncipe garantirão que a justiça concorde com isso, também. Nós todos observamos o modo como você segurou Oliver sobre o lago hoje mais cedo, e eu já testemunhei que você queria abortá-lo antes do nascimento. Ninguém a culpa por querer fazer isso... não depois do que lhe aconteceu. Estamos apenas tentando proteger você e Ollie. Protegê-la de fazer algo que lamentaria mais tarde. É para seu próprio bem e para o bem da criança,. Imagine como se sentiria se o ferisse. Agora, se for sensata e assinar estes papéis que o advogado do príncipe preparou, dando a guarda de Ollie a ele, tudo será mais fácil para você. Eu a levarei de volta para a Inglaterra e podemos esquecer tudo isso.
— Não!
A negativa saiu violenta da garganta de Demi. Medo a dominava. Só, podia estar imaginando tudo aquilo. Não podia estar acontecendo. Mas estava.
— Sinto muito por tudo isso — David se desculpou com o príncipe. — Como já lhe confirmei, o colapso nervoso que Demi teve depois do nascimento de Oliver deixou-a mental e emocionalmente frágil. Esta é a razão pela qual...
— Ela deveria ser trancada com outras mulheres loucas, onde não pode ferir ou prejudicar meu neto.
O príncipe voltou-se para seu advogado e disse algo para ele em italiano, olhando para Demi enquanto falava.
David era responsável pelo que estava lhe acontecendo. Instintivamente, Demi sabia disso.
De algum modo, ele conseguira pôr em ação os eventos que a tinham levado para aquele lugar, para aquela sala e aquela situação inacreditável.
— Não vou assinar nada — declarou firmemente para os três homens. — E não vou para lugar algum. Não até ter falado com Nick.
Enquanto o príncipe e seu advogado trocavam olhares, David deu um passo na direção dela.
Como se sentisse o perigo em que estavam, Oliver começou a chorar novamente.
— Dê-me meu neto — exigiu o príncipe, colocando sua cadeira de rodas em movimento e dirigindo-se para Demi. — Ele é um Jonas, e não há tribunal na Sicília que me negará o direito de ser seu guardião. Especialmente quando souberem da maldade da mãe... uma mãe que tentou negar-lhe a vida.
— Isso não é verdade — protestou Demi.
—Demi, não adianta. Eu já contei tudo ao príncipe. Ele sabe que você queria fazer um aborto, e que tentou colocar Oliver em adoção quando soube que Joseph não o queria.
Demi ofegou.
— Isso não é verdade.
— Não, não é.
Nenhum deles ouviu as portas se abrirem, mas agora todos os quatro se viraram naquela direção, onde Nick estava parado.
— Nick!
Demi pôde ouvir o alívio na própria voz. Podia imaginar o jeito como David a olhava quando ela praticamente correu pela sala e atirou-se nos braços de Nick, mas não se importou.
— Eles estão tentando tirar Ollie de mim, tentando dizer que sou péssima mãe.
— A criança é um Jonas — ela ouviu o velho príncipe insistir. — O lugar dele é aqui comi...
— Comigo, pai — interrompeu Nick. — E é exatamente onde Oliver ficará de agora em diante. Comigo e com a mãe dele... desde que Demi concorde em ser minha esposa, e adotarei Oliver formalmente como meu filho.
O braço de Nick estava à volta dela, apoiando-a, quando ela emitiu um pequeno som de protesto.
— Devo avisá-los que não há lei nesta terra ou em outra qualquer que tire de mim o direito de ser guardião de meu enteado, uma criança de meu próprio sangue, e proteger tanto ele quanto a mãe.
— Você não pode fazer isso. Não pode casar-se com ela... uma prostituta que seu irmão...
Enquanto Demi estava perplexa, Nick permaneceu firme.
— Uma virgem inocente que seu filho, graças a Deus, somente meu meio-irmão, violou, mas que, além da doçura e bondade que possui em abundância, deu para esta família a sagrada confiança de uma nova vida... um criança que jamais permitirei ser mimada e corrompida da maneira como o pai dele foi. Contudo, não posso culpar somente Joseph pelos seus defeitos. Ele herdou a fraqueza e o amor ao vício, o qual finalmente o destruiu, de sua mãe. Então Oliver herdará da mãe a grande coragem e a verdadeira força de caráter.
Quando terminou de falar, Nick pegou Oliver dos braços de Demi, aninhando-o junto ao peito, e o bebê sorriu. O olhar de amor que ambos trocaram fez Demi querer chorar de gratidão.
Colocando seu braço livre em volta dela, Nick a guiou em direção ao carrinho, onde pôs Oliver, antes de dizer calmamente para o pai:
— Eu deveria detestá-lo por tudo que tem feito para ferir e prejudicar aqueles que amo ao longo dos anos, mas, em vez disso, tenho pena de você, pai. Por tudo que poderia ter tido e jogou fora.
Sua provação estava terminada e ela e Oliver estavam salvos. Salvos ali, no apartamento de Nick. Salvos do príncipe e de David, talvez, mas Demi não estava salva de seus próprios sentimentos... de seu amor por Nick, mais profundo e intenso agora, depois do que ele fizera para salvá-la.
— Estou realmente grata a você pelo que fez — ela disse emocionada quando se sentou à frente dele nos confortáveis sofás arranjados em forma de "U". Havia uma mesinha de centro entre eles, onde Demi colocara sua xícara agora vazia de café, e Ollie permanecia adormecido no meio do sofá.
Nick inclinou a cabeça em reconhecimento de suas palavras.
A voz de Demi estava ainda trêmula com a sombra do medo que a invadira. Ele não podia confiar em si mesmo para falar ainda. Sua raiva ainda o consumia, fechando seu coração para o pai.
— Fiquei tão feliz por você ter voltado antes do planejado. Eu estava com tanto medo!
— Concluí os negócios que me levaram a Florença mais cedo do que esperava.
Era mentira. Nick estivera sentado num café na praça perto de seu apartamento quando, subitamente, sentira uma vontade intensa de estar com ela. Tentou ignorar isso no princípio, mas o sentimento persistiu, e ele foi forçado a desistir.
Então, telefonara para seu irmão Kevin da praça, pedindo que lhe arranjasse um avião particular para conduzi-lo de volta a Sicília.
Chegando ao Castello, logo descobrira, através de Maria, onde Demi estava, e também sobre os dois homens que estavam com seu pai.
Depois de resgatar Demi, Nick a deixara nos seus aposentos, aos cuidados de Maria, enquanto ia falar com o pai, exigindo uma explicação para seu comportamento.
Agora estavam apenas os três na paz de seu apartamento. Seu paletó estava atirado sobre o encosto do sofá, o primeiro botão da camisa, desabotoado.
Era assim que queria que sua vida fosse, Nick percebeu, com Demi e Oliver, e com o amor que tinha por ambos.
— Falei com meu pai — ele contou. — E exigi uma explicação para tal comportamento imperdoável. Parece que seu meio-irmão e ele entraram em contato... e muito rapidamente os dois perceberam que o outro tinha uma proposta que servia muito bem a ambos. Meu pai queria obter o controle sobre a vida de Oliver, e David queria o controle sobre você. Duvido que meu pai tenha acreditado por um segundo que você pretendia fazer qualquer mal a Oliver. Contudo, coube-lhe bem fingir acreditar, como coube bem a David proclamar que você era mentalmente instável, portanto, incapaz de ter a posse de seu filho.
— David tentou fazer isso antes. Foi parte da razão pela qual tentei esconder-me dele, que ameaçou dizer ao Serviço Social que eu não tinha condições de tomar conta de Ollie. Não era verdade, mas tive medo que eles acreditassem. Foi por isso que mudei de apartamento.
Nick assentiu.
Já tinha informado a David que ele seria levado ao aeroporto na manhã seguinte e colocado num avião. Também fora avisado que Nick tomaria providências legais para proibi-lo de manter qualquer contato futuro com Demi e Oliver, e que nunca mais teria permissão de pôr os pés na Sicília.
Nick jamais revelaria a Demi sobre a insinuação nojenta que o meio-irmão tinha feito, ou as acusações que fizera contra ela: que Demi era uma namoradeira devassa, que gostava de encorajar os homens desde a adolescência, quando começara a exibir o corpo em roupas ousadas que estimulavam liberdades; que Joseph fora apenas um de uma lista de homens que Demi provocava; que a mãe dela havia pedido a ele, David, que fizesse qualquer coisa que pudesse a fim de evitar o estilo de vida promíscuo de Demi.
Acusações que Nick teria sabido serem falsas mesmo se a intimidade que compartilhava com ela não tivesse lhe provado o quanto Demi era inocente.
— Espero que você tenha tranquilizado seu pai, dizendo-lhe que não vai realmente casar-se comigo.
Demi passara a última hora, enquanto esperava que Nick voltasse da conversa com o pai, ensaiando diversas maneiras para trazer à tona o assunto da declaração dele sobre casar-se com ela, de forma que o informasse que entendia que as palavras tinham sido somente um meio de protegê-la, e não eram exatamente sérias.
— Não, eu não disse isso a ele.
Demi jurara que não o olharia diretamente, porque temia que Nick visse em seus olhos o quanto ela o amava. Mas agora podia sentir seu olhar encontrando o dele, como se estivesse sendo movida por ímãs poderosos. Ou como se Nick a estivesse compelindo a encará-lo.
— Bem, ele logo descobrirá... se nós não nos casarmos. Isto é, quando ele souber que não estamos...
Nick a interrompeu:
— Não contei pela simples razão que acredito que realmente devemos nos casar.
— Você acha que nós... Deveríamos nos casar?
— Sim. É a maneira mais simples e melhor de protegermos você de seu meio-irmão e assegurar o futuro de Oliver e sua guarda. Quando você for minha esposa, ninguém, nem mesmo meu pai, poderá fazer qualquer reivindicação no sentido de usurpar seu papel na vida de Oliver.
— Mas um dia você sucederá seu pai. E o filho mais velho. Será o príncipe e cabeça da família Jonas. Não pode se casar com alguém como eu.
— Posso me casar com quem eu escolher — corrigiu Nick arrogantemente. — E se você está preocupada que algumas pessoas possam não aceitá-la como minha esposa, deixe-me assegurá-la que eles a aceitarão... ou se arriscam a perder o relacionamento comigo.
— Não posso permitir que você faça tamanho sacrifício — protestou Demi. — Deveria casar-se com alguém que ame.
Nick hesitou. Deveria contar-lhe? Admitir que a amava? Não! Não tinha direito de sobrecarregá-la com seus sentimentos... especialmente quando Demi ainda estava tão vulnerável pelo confronto com o meio-irmão.
— Fazer meu dever é mais importante para mim do que o amor — mentiu ele firmemente. — E é meu dever proteger você e Ollie. Não há um modo melhor de satisfazer esse dever do que me casando com você. Todavia, isso não significa que precisa aceitar.
Nick tinha de oferecer-lhe pelo menos uma rota de fuga. Não queria forçá-la a aceitá-lo. Sua honra e o amor que sentia por ela exigiam isso.
Não aceitar! Quando ela o amava tanto? Mas, talvez, para o bem de Nick, devesse recusar. Ele podia dizer que amor não era importante, mas e se um dia se apaixonasse?
Por outro lado, se Demi o deixasse, para onde iria? Como ficaria protegida de David? E Ollie... como poderia proteger seu filho de seu cruel meio-irmão, se estivesse sozinha?
— Parece ser a coisa sensata a fazer — ela concordou.
Nick sentiu seu coração acelerar num misto de alívio e ansiedade. Alívio porque ela aceitara e ansiedade porque agora, mais do que qualquer coisa, queria tomá-la nos braços e contar-lhe como se sentia... dizer-lhe o quanto queria fazê-la feliz.
Em vez disso, esforçou-se em concordar friamente.
— Realmente, é a coisa sensata a fazer.
Ele começou a levantar-se e o olhar de Demi dirigiu-se para o movimento dos músculos de suas coxas, causando-lhe aquela dor íntima, agora familiar, que a informava o quanto o queria.
— De agora em diante você e Oliver viverão e dormirão aqui, no apartamento. Eu lhe darei uma chave, de tal forma que, se por alguma razão eu não estiver por perto, você poderá se trancar aqui, se sentir necessidade. Mas lhe dou minha palavra que meu pai não tentará repetir o comportamento de hoje.
Ela iria compartilhar o apartamento de Nick! Seu corpo inteiro tremia por algo que era mais sensual que simples alívio.
— Há uma suíte de hóspedes — Nick acrescentou.
Uma suíte de hóspedes!
— Isso significa... — começou Demi, enrubescendo.
— Significa o quê? — disse ele.
— Se vamos casar isso não significa que deveríamos dormir juntos?
— É costume os casais dormirem juntos. Mas se está me perguntando se nosso casamento incluirá um relacionamento sexual, então a resposta é que eu certamente gostaria que assim fosse. Mas a decisão deve ser sua.
Sua? Bem, Demi sabia o que queria, é claro. Amava-o e não havia nada que quisesse mais do que compartilhar sexo com ele, da maneira que fosse.
Ela estava hesitando... relutando em desistir de sua liberdade de compartilhar a vida e o corpo com um homem de sua própria escolha, reconheceu Nick. Bem, o que ele esperava? Que Demi se atirasse em seus braços agora e dissesse que o amava e o queria?
— Não há necessidade de tomar uma decisão agora — ele disse, tão casualmente quanto pôde.
— David já partiu? — perguntou Demi, mudando o assunto antes que falasse o que realmente pensava e sentia, e constrangesse a ambos.
Nick meneou a cabeça.
— Não. O primeiro avião que consegui para ele só parte amanhã cedo. Estou relutante em permitir-lhe a liberdade da ilha nesse meio tempo, por óbvias razões. Infelizmente, ele tem de ficar aqui no Castello por enquanto. Não se preocupe, David ficará nos aposentos de meu pai. Uma punição extra que cabe bem a ambos, eu acho, porque serão forçados a suportar a companhia um do outro.
Demi concordou com um gesto de cabeça.
Poderia conquistar o amor de Demi?, Nick perguntou-se. Era justo que ao menos tentasse? Casando-se com ela, estaria protegendo-a ou aprisionando-a, como David tinha feito? Estava fazendo seu dever ou simplesmente procurando de uma maneira egoísta o que mais queria na vida?
Olhou para Demi, inclinada sobre o sofá, observando Ollie. A expressão maternal amorosa mexeu com o coração de Nick.
— Para o bem de Oliver, é necessário que nos casemos agora. Contudo, se nosso casamento não der certo, ou se em data futura um de nós se apaixonar, então podemos nos divorciar.
O coração de Demi contraiu-se com uma dor aguda. Somente um deles poderia apaixonar-se fora daquele casamento, e não seria ela! Como seria capaz de suportar a dor se Nick se apaixonasse por outra pessoa? Ele já estaria arrependido de sua decisão?
— Nós não precisamos nos casar — ela se forçou a dizer.
— Sim, precisamos — corrigiu Nick. — A parte qualquer outra coisa, também existe a chance de termos feito um filho juntos.
Demi engoliu em seco contra o nó de culpa que bloqueou sua garganta. Nick havia de tomar precauções, mas ela não permitira. Sentiu mais culpa ao reconhecer que adorara a sensação maravilhosa de tê-lo sem seu interior sem qualquer barreira entre eles, independentemente de quão impulsiva havia sido aquela intimidade.
— Vou avisar Maria que você está se mudando para a suíte de hóspedes, para que ela organize tudo.
Demi assentiu, mas logo que Nick chegou à porta a certeza de que ficaria sozinha encheu-a de tanto pânico que ela se levantou.
— Isso não pode esperar até amanhã? — ela implorou. — Sei que você disse que posso trancar-me aqui, mas... mas não quero ficar sozinha enquanto David estiver aqui. Ele me faz sentir muito medo. — Demi tentou rir e fazer uma piada sobre seu medo, acrescentando: — Nem sequer acho que conseguiria dormir sozinha. — No minuto que percebeu o que tinha dito, corou. — Eu não quis dizer o que pareceu. Apenas...
— Sei o que quis dizer — Nick assegurou-lhe. — E não precisa dormir sozinha. Ficarei feliz em compartilhar a cama com você.
A cama, o corpo, a vida, seu coração e seu amor... tudo que possuía para dar. Mas, é claro, não poderia dizer-lhe isso. Aquilo somente acrescentaria mais um fardo aos que Demi já tinha de carregar.
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